Livro reúne logotipo perdido e marcas utilizadas pela agência espacial norte-americana nos anos 1970

Logo virou cult entre designers pela inovação – Foto: Reissue of the 1975 NASA Graphics Standards Manual/Reprodução
Em 1974, os designers Richard Danne e Bruce Blackburne lançaram o manual de identidade visual oficial da Nasa, a agência espacial norte-americana. O livro definia as fontes, cores, logos e padrões de estética que seriam usados dali em diante nas naves construídas pela agência espacial.

À esquerda, o logo proposto em 1974; o outro, atual, saiu de cena na ocasião e voltou em 1992 – Foto: Reissue of the 1975 NASA Graphics Standards Manual/Reprodução
A mudança determinava também um novo logo para a Nasa. Antes de 1974, a agência usava o mesmo logo de hoje. A ‘almôndega’, como é conhecida, é considerada de mau gosto pelos padrões do design. Alguns motivos são a dificuldade de reprodutibilidade em diferentes tamanhos de impressão, formatos e superfícies, a qualidade da ilustração a mistura heterodoxa de cores.
“Para a época, [o logo] é uma criação bastante ousada: o padrão estético com esse traçado contínuo, a barra da letra ‘A’ suprimida, fazendo referência a uma ogiva de foguete, a sensação de continuidade das letras conectadas… é como se fosse um tubo de alumínio que foi curvado, o que faz referência aos materiais que a Nasa usa.”
Luciano Cardinali
Professor de Design da Escola Superior de Propaganda e Marketing
O novo logo, futurista, minimalista e sóbrio, caiu no gosto dos profissionais de design gráfico. Mas gerou controvérsia pelo modernismo forte e característico – inclusive entre os altos engenheiros e diretores da Nasa, que pouco se importavam com padrões de design e sentiam falta da versão antiga.
Em 1992, a Nasa abandonou o logotipo vermelho e voltou a adotar a almôndega. O antigo manual foi abandonado e parou de ser produzido.
“[O manual] é um exemplo maravilhoso de pensamento modernista em design que foi prevalente nos anos 60 e 70. Para mim, como designer, é tecnicamente perfeito.”
Hamish Smyth
Criador da campanha no Kickstarter, em entrevista ao The New York Times
O logotipo vintage de 1974 ficou conhecido como ‘o logo perdido da Nasa’. O manual se tornou cult entre designers, pra quem referências iconográficas, coleções e gravuras acabam sendo insumo e repertório. “[Essas coisas] nos municiam a criar, parodiar, modificar, reconectar, reconhecer, entender, processar e projetar (sobre o ombro dos gigantes). Quando fetiche e repertório se misturam com simbolismo e fantasia, aí você tem o surgimento de um clássico instantâneo – como foi o caso do manual de marca da Nasa”, diz Fabio Lopez, professor de design da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Detalhe no manual mostra padrões de identidade visual para as aeronaves – FOTO: REISSUE OF THE 1975 NASA GRAPHICS STANDARDS MANUAL/REPRODUÇÃO
É provavelmente por isso que, em 2016, um grupo de profissionais da área organizou uma campanha de financiamento coletivo para relançar o manual em uma espécie de edição de luxo.
O projeto foi um sucesso: seus criadores arrecadaram quase US$ 942 mil para bancar a reedição. O livro começou a chegar aos compradores em março deste ano. Ele custa US$ 79 e é despachado para todo o mundo.
A demanda recente, aliás, despertou a atenção da Nasa, que resolveu disponibilizar o manual gratuitamente em versão PDF em seu site.
Sim a marca “perdida” da Nasa é uma produção muito bem elaborada e projetada, um marco no design e uma inspiração, mas vale lembrar que design não é apenas a vontade do projetista, como já foi dito a “almôndega” agrada a equipe da Nasa. Em outras palavras, o cliente é tão importante para o projeto quanto a inspiração e a inovação. O que nos deixa com a pergunta, para quem é produzida a identidade da Nasa? O grande público? Seus engenheiros? Seus profissionais? Sua diretoria? Deixe nos comentários suas opiniões.
Via Nexo, opiniões Urucum Digital.