Destino São Paulo

A primeira vez que eu voei de avião não foi uma experiência muito agradável. Toda vez que eu tentava contar a alguém como foi as pessoas riam, então acabei escrevendo a respeito.

Destino São Paulo

– Que corredor estreito – Pensei. Será que é normal isso? Bom parece tranquilo, lembra um ônibus, mas com três cadeiras juntas ao invés de duas.

Sentando, peguei uma revista. Olha que legal, tem revista da própria companhia aérea. O negócio é relaxar, por que com tantos vôos todo dia justo o meu iria cair?
– ATENÇÃO, senhor Vitor identifique-se! REPITO, IDENTIFIQUE-SE!
AI MEU DEUS, QUE QUE EU FIZ? Moço eu juro, eu ia devolver a revista, só tava olhando!
Assustado igual um filho perdido do pai no Shopping levantei a mão. A aeromoça olha e se vira para um outro comissário e diz “Ele está embarcado, podemos ir”.

Ei como assim? Vocês não sabiam que eu estava aqui? Ai Jesus, tem algo errado! Me descobriram! Sabem que sou azarado.
Minha acompanhante ria lágrimas do meu pânico. Eu totalmente sem graça ri e voltei a ler a revista.

Atenção senhores passageiros aqui é o Capitão da aeronave, Joaquim, gostaria de informar que tenho permissão para decolar… Que bom Joaquim… Bom porque isso era o mínimo que eu esperava de você.

As turbinas se ligam. É tão forte assim mesmo? Aumentam mais ainda o barulho e a potência. Gente que isso? Eu quero decolar e não entrar em órbita.

Respire… Só respire… O vôo levanta. Até que é tranquilo, mas porque ele não sobe mais que isso? Um conhecido me informa que o piloto é seu irmão e que está tentando desviar das nuvens, aparentemente o “teto fechou”.

Como assim fechou? O céu não tem teto! Passa no meio das nuvens ué! Alias, passa não, vai ficar tudo escuro e ele não vai ver nada. Epa! Pera ai. Seu irmão? Ai Jesus e se ele ficar nervoso porque a família está aqui? To ferrado!

*Trunt Crarrrr* O QUE É ISSO?
– Se segure, é uma turbulência forte, ele não achou passagem vai atravessar o teto.

Tenho certeza que naquele momento meu coração parou por uns 3 segundos. As caras de pânico eram geral. As paredes do avião balançavam em sentidos opostos como se fossem rasgar.

Atravessamos o teto. Eu na janela, posição estratégicamente preparada por minha acompanhante para me assustar, pude ver uma tempestade abaixo do avião.

– Vou na cabine falar com meu irmão. – Não! Fica ai, não distrai ele. Ele foi me deixando falando sozinho.

Estranhamente depois da turbulência o avião não vôou suave como antes, foi sacolejando como um ônibus velho a viagem toda.

– Senhoras e senhores, gostaria de informar que passamos por uma turbulência, logo após nossa decolagem o aeroporto fechou devido ao tempo.

Não há palavras que descrevam minha cara nesse momento. Um misto de raiva e pânico me tomavam. Volta o irmão do piloto.

– Ele disse que hoje vivenciou na prática algo que só conhecia na teoria.

– SENHOR TIRA ESSE SENTIMENTO DE MIM! Vou tentar dormir um pouco pra relaxar. 5 minutos após meu início do cochilo:

– Senhor… Senhor… – Acordo meio assustado – Deseja algo?

Um carrinho com sucos, refrigerantes, biscoitos. Será o Benedito! nem dormir consigo.

– Tem água com açúcar?
– Senhor?
– Nada, me vê um refrigerante.

Olhei pela janela e vi o mar. Estranhamente me senti mais tranquilo. Afinal cair no mar me parecia mais atrativo que em terra firme. Eu sei, eu sei, não faz sentido, mas eu precisava me consolar com algo.

– Atenção passageiros a nossa esquerda podemos ver Ilha Grande.

NÃO! Não olha pra esquerda! Olha pra frente! Pra frente! Você vai bater!

Sacolejando ainda, o avião chegava ao aeroporto de São Paulo minutos depois. Se a decolagem foi tranquila o pouso por outro lado parecia cena de filme.

Bateu, bateu, bateu de novo, tremeu, correu, freiou e quase dando um cavalo de pau, parou.

Terra! Agora eu sei porque Papa beijou o chão quando chegou no Brasil! O velho atravessou o atlântico voando, coitado.

A paz retornou no meu coração, até que me lembrei. Ah não! Tem a volta ainda!

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