A sede de aprendizado e a obra de Michel Victor

Tem coisas na vida que simplesmente têm que acontecer né? Quando comecei a usar o site Deviantart eu escolhi alguns favoritos para seguir e nunca mais larguei. Pessoas que tinham uma ou outra característica que eu queria aprender para mim. Entre eles um cara que tinha o trabalho incrível me chamou atenção.

Na época achei que poderíamos ser até parentes por causa do segundo nome dele, mas me respondeu bem direto que não, quando perguntei a respeito, e esse foi o único contato que tive com eles em anos. E agora, estou eu aqui o entrevistando.

Michel Victor Lima de Oliveira é um designer gráfico que trabalha com tudo um pouco. Principalmente ilustração e animação. A característica dele que sempre me chamou atenção e eu sempre quis aprender, é como administrar tantas áreas de conhecimento ao mesmo tempo. Eu tenho dificuldade com isso.

Com um trabalho impecável e que impressiona ele mistura música, desenho, animação, efeitos especiais e até mesmo interatividade. São telas de encher os olhos e que apesar de estarem sendo postadas em forma de vídeo aqui, elas possuem uma experiência toda especial em seu formato original.

Hoje vou fazer um pouco diferente, ao invés de espalhar as imagens pelo texto, postarei os links para o trabalho de Michel no final da matéria. O trabalho dele precisa ser visto em movimento. Vai valer a pena, acredite.

O Urucum Digital conversou com Michel Victor e descobriu muitas coisas legais, inclusive dicas que podem abrir a sua mente. Dê uma conferida.

Seu trabalho sempre me impressionou muito, você é aquele tipo de artista que passa a impressão que sempre desenhou bem. Como foi o começo, o aprendizado do Michel Victor?

Eu tenho duas lembranças nítidas de quando eu me diferenciei dos outros amigos na escola. A primeira foi quando meu pai me ensinou que não se desenhava com traços únicos e duros, e sim traçando com suavidade e com vários traços para alcançar o efeito necessário, ele desenhou um coqueiro, e eu vi como ele fez, isso eu tinha 6 anos de idade. Na sala de aula eu refiz o coqueiro e mostrei para a professora, e ela ficou impressionada, mostrou para todos da sala e ainda mais, ela mostrou para as outras salas também. Eu não imaginava que era algo tão grande assim, mas eu gostei da sensação de que eu tinha algo especial e que as pessoas gostavam disso.

O segundo momento foi com minha tia Solange, ela era daquelas pessoas que sempre fazia o desenho de capa do seu caderninho, ela sabia copiar muito bem outras imagens e eu sempre observador, aprendi muito vendo ela desenhar. Uma imagem me marcou muito que foi a imagem de uma arvore com uma cobra enrolada, e eu o reproduzi também. Como eu comecei com paisagens, eu segui nesse caminho até meus 12 anos, até eu começar a me interessar por meninas, ai comecei a me aventurar pelo manga e comecei a desenhar pessoas, principalmente mulheres, até hoje esse é meu tema preferido, mas durante toda minha juventude me aventurei em todos os tipos de segmentos e estilos, desde Tiny Toons até Overhaulin (programa de reforma de carros, onde Chip Foose sempre desenhava o carro antes).

Eu também fui para escola de pintura em óleo, mas não fiquei muito tempo, não me adaptei com a pintura tradicional (todos meu desenhos eram preto e brancos).
Após me formar na escola fui para a faculdade de Desenho Industrial no interior de São Paulo, mas o curso era muito fraco então decidi me aventurar no Rio de Janeiro na faculdade de Design Gráfico voltado para Animação 3D e jogos.

Foi lá que tive meus primeiros contatos com o universo 3D. Lá passei por todos os processos, desde de desenho com modelos vivos e perspectivas, aprendi maquete eletrônica em 3D, modelagem, animação, iluminação, renderização. No meu TCC fiz um curta metragem que pode ser visto no Youtube, concluindo o curso com nota máxima. Esse curta também me rendeu 3 prêmios em festivais de animações no Brasil.

Durante minha estadia no Rio de Janeiro, comecei a desenhar para o Tibiabr, e foi eles que me deram minha primeira tablet. Meu mundo no desenho digital apenas começou com 19 anos.

Quando terminei a faculdade sentia que meu desenho ainda não estava bom o suficiente, foi ai que decidi realmente me empenhar e treinar, com isso fiquei um ano dentro de um quartinho apertado perto da área de serviço no apartamento dos meus pais. Foi um ano inteiro tentando alcançar o melhor de mim, meu objetivo era entrar nas revistas da Ballistic Publishing, que reúne os melhores pintores digitais do mundo. Após um ano desenhando, nenhum desenho havia sido escolhido, mesmo assim continue desenhando e evoluindo.

No ano seguinte os mesmo desenhos que não haviam sido escolhidos, foram selecionados, foram escolhidos 3 desenhos dos 5 que havia enviado. Nessa edição eu fui o único brasileiros que havia entrado na revista. No ano seguinte tive mais um desenho publicado.
Eu não possuo mais meus primeiros desenhos, mas eu refiz ele agora das lembranças que eu tinha daquela época.

Você treina com frequência?

Atualmente não ando treinando muito minhas técnicas de desenho e pintura, estou focando mais em animações e efeitos especiais que são o que estou mais gostando de fazer atualmente.

Te conheci no Deviantart, virei seu fã quase que instantaneamente (na época fui atraído pelo seu segundo nome, achava que fosse sobrenome e que pudéssemos ser parentes hehe). Até onde sei, você não tem nenhum website próprio, apenas algumas redes sociais. Qual sua relação com o Deviantart e é uma opção se manter por lá e não possuir um site?

Eu tenho um carinho especial pelo Deviantart, pois tudo que consegui hoje foi graças a ele.

Um site sozinho não resolve, para que um site funcione eu preciso gastar muito tempo com divulgação e o Deviantart sendo uma rede social faz isso muito bem sem muito esforço, e o público do Deviantart é apenas apreciadores de arte e artistas é diferente do Facebook por exemplo.

Além disso de todas as rede sociais de artistas, foi a única que encontrei que aceitava uma forma inteligente de colocar minhas animações, que no caso deles uso o Flash. Então é o único lugar que posso ser diferente dos outros artistas e isso funcionou muito bem.

De qualquer forma eu possuo o domínio, www.michelvictor.com.br que te joga para o Tumblr e la tem os links para todas as redes sociais.

Você tem uma característica que é muito peculiar. É capaz de atuar em diversas áreas da arte e da tecnologia (o que é algo que eu trabalho muito em mim também). Desenho, pintura, design, música, animação 3D, edição de vídeo, efeitos especiais, são algumas das que sei que você ataca. Essa característica de “homem renascentista” veio de forma natural ou um belo dia você decidiu que queria dominar tudo? Você teve ou tem dificuldade para aprender alguma?

Eu sou uma pessoa que fica entediado muito fácil e sou muito preguiçoso e acho que essas são as duas principais para me ter feito aprender tanta coisa diferente. Eu não consigo ficar fazendo a mesma coisa todo dia, então estou sempre a procura de coisas novas para fazer ou aprender, tentar coisas novas sempre. Não consigo me imaginar sendo caixa de um banco por 30 anos, isso é desesperador.

E como sou preguiçoso eu sempre procuro a melhor, mais fácil e mais rápida forma de fazer algo, então sempre estou pesquisando novas formas de resolver meus problemas.

Além disso a parte mais emocionante para mim é quando estou aprendendo algo novo, depois que chego a um ponto que estou satisfeito eu perco o interesse e começo aprender algo novo.

Eu sempre quis aprender a programar para conseguir fazer um jogo sozinho, mas nunca tive sucesso, o mais longe que eu consegui chegar foi aprender algumas coisas no Flash, mas quem sabe um dia eu me empenhe o suficiente para consegui aprender né? Ai pode sair um jogo legal um dia.

Você da conta de tudo? Tenho um amigo que diz que é preciso se focar em algo para evoluir. Eu sinceramente não sei se concordo com isso. O que você pensa disso?

Muita gente me diz isso, em certo ponto esta correto, mas tudo é relativo. Eu vejo muita gente no mercado que é muito ruim no que faz, mas tem seu público, seus clientes e ganha dinheiro.

Como eu disse anteriormente, eu estudo até o ponto que me faz feliz e isso as vezes não leva a vida toda, certo? Ai você tem tempo para aprender novas coisas. A vida é uma só e eu não vou gastar ela com apenas uma coisa.

Você encontrou uma forma de juntar muitas das suas habilidades para realizar um único tipo de trabalho. Suas pinturas digitais parecem vivas, e algumas delas até interativas. Possuem movimento, som e música. Como foi chegar nesse tipo de obra? Foi algo que decidiu sozinho ou teve inspiração de outros artistas?

Quando estava terminando meu TCC, tive que aprender After Effects para conseguir terminar, para mim o After Effects foi o divisor de águas, no primeiro dia que eu abri ele e comecei a estudar eu me apaixonei, era um Photoshop mas que se movia, era muito mais legal que Photoshop.

Eu tinha uma conta mais antiga no Deviantart, mas tinha poucos acessos, ninguém realmente se interessava pelo meu trabalho, que era exatamente as primeiras pinturas que você encontra na minha galeria. Eu sabia que eu era um artista bom, mas artistas bons existem milhões no Deviantart, eu tinha que fazer algo para mudar isso, fazer algo único. Foi ai que tive a ideia de animar os desenhos, eu não sei bem como veio essa ideia, mas funcionou, agora eu tinha algo único e eu comecei a ganhar grande exposição no Deviantart. Eu comecei a faze-lo justamente porque senti a necessidade de evoluir para conseguir chegar onde eu queria.

Essas animações foi algo que eu criei sozinho, não acho que devo ter sido o primeiro a fazer isso, mas eu nunca havia visto antes, e eu mesmo que criei minha própria técnica.

Para falar sobre minhas habilidades com música, eu teria que contar outra história enorme só para isso. haha

De certa forma você é um visionário no que faz e muito dedicado. Quando te conheci, seus trabalho não eram algo comum de se ver por aí (e ainda não são ao meu ver), especialmente no Brasil e com tamanha qualidade. A reação das pessoas, quando você começou a aparecer, foi como? E como é essa reação hoje em dia?

Confesso que quando comecei a postar esses desenhos em 2009, as pessoas ficavam muito impressionadas, postagem tipo “WOW, OMG O.O” ou “I never saw something like that before” apareciam com bastante frequência, hoje em dia os comentário são mais “Awesome like always”, as pessoas já não se impressionam como antes, pois já estão acostumada a ver meu trabalho.
Talvez esteja na hora de pensar em algo diferente. Estou com algumas idéias mas ainda não sei como executa-las.

Basta ver um pouquinho do seu portfólio para perceber algo recorrente. Qual é a sua relação com as “ladies”? O tema da mulher bonita e sensual é sempre algo utilizado por você. E como as pessoas reagem, depois de passar pela fase de encantamento e perceber sempre a figura da mulher no seu trabalho? (A uns anos atrás, mostrei seu trabalho para uma grande amiga e ilustradora incrível e me diverti com a reação dela. “Nossa, muito interessante, mas ele é meio carente não?” Hehe. Imagino que homens e mulheres reajam diferente ao seu trabalho).

Eu falei um pouco na minha história sobre isso, mas vamos nos aprofundar mais sobre isso. Quando mais jovem eu era muito tímido eu era parecido com o Rajesh do Big Bang Theory, era uma tarefa quase impossível chamar uma menina para sair.

Eu sempre ia na banca de jornais procurar por revistas que ensinavam a desenhar, um dia apareceu uma revista “Como desenhar Mangá” e havia uma linda moça na capa, foi assim que comecei a desenhar minhas próprias “namoradas”, isso me lembra um filme Ruby Sparks.

Mas ao decorrer do tempo isso mudou, eu não sou mais tão tímido quanto antes. Mas hoje eu criei um tipo de admiração, eu adoro a beleza feminina e isso me faz querer pinta-la.
Muito das minhas imagens são inclusive de pessoas que passaram na minha vida.

Eu acho que eu sou mais um pervertido do que um carente. haha

Você faz tantas coisas, que a entrevista fica até curta para falar de tudo. Qual é a sua relação com música? Você ainda tem uma banda? Vi alguns vídeos seus como DJ. Tem trabalhado com isso também?

Eu achei que eu iria escapar da parte musical, mas temos uma pergunta para isso. haha<

Assim como meu pai me ensinou meus primeiros passos no desenho, ele também me ensinou meus primeiros passo na música, com a música Chopsticks (a música do Danoninho) no piano.
Além disso minha vó foi dona do primeiro conservatório musical da cidade, então eu já nasci envolvido nesse mundo.

Apesar disso, eu frequentei pouco os conservatório de musica, assim como as escolas de desenhos, eu não me adaptei, eu sou uma pessoa que não gosta de regras, eu gosto de aprender o que eu quero, na hora que eu quero, da forma que eu quero, então eu nunca gostei de professores.

Eu passei por algumas bandas quando jovem, mas minha maior dedicação foi ao Militia onde passei 9 anos tocando e compondo rock pesado. Infelizmente com a cena atual eu não achei que a banda pudesse um dia nos sustentar, apesar de ter sido meu maior sonho, viver de banda, depois de 9 anos eu perdi as esperanças e a deixei.

Após isso eu comecei a produzir música eletrônica, até ganhei um concurso, mas não me dei bem, pois o que eu gostava mesmo era de pegar no instrumento e tocar ao vivo, e não apenas mixar músicas.

De qualquer forma, eu estou trabalhando compondo músicas para jogos e filmes, foi algo que encontrei que pudesse continuar no mundo da música e também poder ganhar uma grana com isso.

Fazendo tantas coisas, com o que você tem trabalhado de fato atualmente? Emprego, negócio próprio? Imagino que o mercado deva te adorar.

Estou trabalhando basicamente 10% como professor universitário em Publicidade e Propaganda e Jornalismo, 10% como ilustrador, 10% como musico e 80% com animador.

Atualmente eu peguei um cliente para animar dezenas de páginas de uma história em quadrinho de conteúdo adulto, mais conhecido como Hentai. É muito divertido animar seios pulando, vocês deveriam experimentar. haha

Todo mundo sabe como é difícil trabalhar com arte no Brasil. Como é e foi a sua experiência?

Felizmente vivemos em um mundo globalizado, então eu não enfrento esses problemas, pois 98% dos meu clientes são de outros países. No Brasil enfrentamos vários problemas, um deles é nossa cultura em relação a arte, ela é menosprezada aqui, poucos dão o valor necessário. Outro problema é a inadimplência, temos que tomar muito cuidado para não tomarmos calote aqui.

Enquanto aqui no Brasil os clientes tentam te pagar o mínimo possível e sempre querem mais desconto, eu já tive vários clientes estrangeiros que me pagaram mais do que o combinado apenas porque eles acharam o trabalho incrível, é quase surreal pensar nisso por aqui.

E agora temos mais um motivo para pararmos de trabalhar com clientes brasileiro, a crise econômica e politica brasileira. Com o dólar a 4 reais, fica difícil para cliente brasileiros pagaram tão caro pelo menos trabalho. Um trabalho que poderia custar 200 reais, custa hoje 800 reais.

Por fim, uma pergunta padrão aqui do Urucum Digital. Que conselhos você pode dar para as pessoas que estão começando ou que tentam viver da arte?

Por experiência própria, o que deu certo para mim, pode não dar para você, mas eu aconselho a ser diferente, ter o diferencial, ser único, indiferente da área que você esta, tente se sobressair fazendo algo surpreendente, algo que nunca ninguém fez antes e eu tenho certeza que isso te levará a lugares grandiosos.

Confira alguns dos trabalhos de Michel Victor.

Deviantart

Gumroad

Tumblr

CG Society

Youtube

E caso queira ser um patrono e contribuir com o trabalho de Michel, acesse – Patreon

Armandinho, Alexandre Beck e o compromisso com o mundo

Um dia um amigo me disse: “Cara tem um menino no Facebook, uns quadrinhos. Nossa, é você!”, eu fiquei tentando entender o porque do sorriso, achando que ele estava tirando uma com minha cara, daí ele me explicou que se tratava de um personagem de tirinhas que estava aparecendo no Facebook vira e mexe. Não dei muita bola no começo, até que o fato se repetiu com uma amiga, daí fui procurar saber quem era o tal “menino que se parecia comigo”.

O menino dos quadrinhos era o Armandinho e de fato não posso negar que temos muito em comum. Ele chegou de mansinho no Facebook e logo de cara agradou a muita gente. É um menino de uma inocência meio destrambelhada, que gosta muito de animais e nos faz rir muito com suas “tiradas”.

Armandinho foi criado em 2009 pelo ilustrador, agrônomo e comunicador social,  Alexandre Beck, só se tornando a tirinha que conhecemos em 2010. Ele não foi planejado e na verdade foi criado em poucas horas para ilustrar um trabalho urgente. Uma matéria de economia sobre pais e filhos (Olha aí você que vive reclamando de prazos curtos).

Dinho, como é conhecido carinhosamente, representa muitos de nós na infância. Uma criança atentada, mas muito amável, o que torna fácil se identificar com ele.

A tirinha tem um compromisso social grande, tratando de temas como preservação do meio ambiente, igualdade social e cresceu muito nos últimos tempos.

O trabalho de Alexandre é bem legal e está sendo reconhecido por muitos. Um fato curioso desse reconhecimento foi a participação do Armandinho na CowParade catarinense. Uma exposição de arte pública que já percorreu diversas cidades de todo o mundo. Se tratam de esculturas de fibra de vidro em forma de vaca e que são decoradas por artistas locais.

É impossível não notar no Armandinho as influências de personagens como o Calvin, a Mafalda e o Menino Maluquinho, tudo isso somado a sensibilidade única do Alexandre Beck torna a tirinha sensacional.

O Urucum Digital recebeu um presentão, uma entrevista com criador do Armandinho e com o próprio Armandinho! Beck foi muito legal e contou coisas interessantes.

As pessoas sabem muito sobre o Armandinho, mas pouco sobre você. Como é o Alexandre Beck? Como é o seu trabalho hoje em dia?

Trabalho quase exclusivamente com textos/desenhos/quadrinhos há 15 anos. De 2000 a 2005 trabalhei em redação de jornal e depois comecei a produzir de casa. É algo que demanda esforço, mas que pra mim compensa.

Como você acabou virando ilustrador?

Já havia feito agronomia e terminava comunicação social quando surgiu uma vaga de ilustrador no Diário Catarinense. Levei meus desenhos e fui selecionado.

Você ganhou um prêmio ainda jovem na Bienal Internacional de Kanagawa, no Japão. Como foi isso?

Foi uma professora que enviou um desenho meu para o concurso. Eu só soube quando recebi o prêmio, uma grande medalha de prata e um diploma da prefeitura de Kanagawa. Foi algo bacana, mas não imaginava na época que desenhar pudesse se tornar minha atividade.

Você tem uma carreira de muitos trabalhos interessantes, participou do Diário Catarinense, fundou a Artes & Letras Comunicação. Essa trajetória para você foi algo orgânico ou custou dar uma forçadinha no destino? Sabemos que nada vem fácil, mas foi algo que veio naturalmente para você?

As coisas foram acontecendo, passo a passo. Eu tinha vontade de trabalhar com desenhos. Por isso, fui cursar comunicação social em 97, mesmo graduado em agronomia. O curso de comunicação não foi como eu imaginava (ainda bem), mas foi importante na minha formação e visão de mundo. Depois, já ilustrador do Diário, comecei a fazer paralelamente quadrinhos voltados à educação ambiental – uma preocupação minha – utilizando conhecimentos da agronomia. A Arte & Letras veio para formalizar meus trabalhos como jornalista-ilustrador.

O Armandinho surgiu por acaso não é verdade? Inclusive sem nome. Conta pra gente a história.

As primeiras tiras do que veio a se tornar o Armandinho fiz em 2009. Foram feitas às pressas, pra ilustrar uma matéria que seria publicada no dia seguinte no jornal. As tiras que eu fazia na época, com outros personagens, não se encaixavam na matéria – que abordava economia familiar, com pais e filhos. Usei um desenho que tinha pronto, rabisquei pernas para representar os pais e as tiras foram publicadas no dia seguinte.

Maurício de Sousa costuma dizer que é o pai da Mônica, você se considera o “pai” do Armandinho? Como é a sua “relação” com ele?

O Maurício é de fato o pai da Mônica, que trabalha com ele, inclusive. Eu sou pai do Augusto e da Fernanda. Minha relação com o personagem é mais de cumplicidade. Mas muita gente me chama de “pai do Armandinho”, e não tem problema nenhum nisso.

O Armandinho tem muito de você? Sabemos o quanto ele quer um mundo melhor, isso vem da personalidade do Alexandre ou é um compromisso social que você quis que a tirinha assumisse?

É inevitável que tenha. Essa linha trago de outros trabalhos e setores da minha vida, incluindo a época do movimento estudantil, e está presente no Armandinho.

O Armandinho mudou muito a sua vida? O que mudou para você quando ele começou a fazer sucesso? Foi algo inesperado para você?

À medida que o personagem foi precisando, fui direcionando mais de meu tempo a ele. Isso mudou minhas tarefas e permitiu, por exemplo, me dedicar a fazer os livros. Não esperava o reconhecimento do personagem. Nunca foi esse o objetivo, e isso não muda nada minha forma de fazer as tiras.

Você acha que o mercado brasileiro tem carência do tipo de trabalho que você executa hoje com o Armandinho? Temos grandes profissionais de quadrinhos, mas poucos tão populares como ele se tornou.

Não creio que devamos direcionar nossas ações pra atender a um “mercado” ou que “popularidade” deva ser um objetivo a ser alcançado. Há muita gente lutando pelo bem comum, apesar de todas as dificuldades. São voluntários, professores, profissionais da saúde, etc. Isso é importante e merece ser reconhecido e valorizado. Muito mais que cartunistas ou “produtores de mercadoria”, somos seres humanos e cidadãos.

Seu estilo de traço nas tirinhas é bem característico. Ele foi desenvolvido para as tirinhas do Armandinho ou seu estilo sempre seguiu essa linha? Você tem outros trabalhos acontecendo atualmente que gostaria de contar pra gente?

O estilo dos meus quadrinhos educativos vai mais ou menos nessa linha. Mas escrevo, desenho e às vezes pinto coisas diferentes.

Que dicas você poderia dar para os ilustradores e quadrinistas que leem o blog?

Não me sinto à vontade pra dar dicas, mas algumas coisas me são importantes. Uma ilustração/quadrinho pode afetar o comportamento alheio, e isso implica responsabilidade. A leitura e a reflexão são fundamentais, e se refletem no nosso trabalho.

Quem busca originalidade talvez deva parar de tentar agradar os outros ou seguir caminhos já percorridos. Todos somos únicos, originais. Talvez a resposta esteja dentro de nós mesmos.

O papo com o Alexandre estava muito legal, até que alguém entrou na conversa. Já que ele estava por lá, resolvi fazer umas perguntas para ele também.

Armandinho, você tem noção do sucesso que está fazendo na internet? Tem gente querendo até suas camisas. O que acha disso?

Acho ruim. Tenho poucas camisas e gosto muito delas pra dar pra alguém.

Você é tão bagunceiro quanto parece ou é só impressão minha?

É só impressão sua, do meu pai, da minha mãe e dos meus professores.

Você gosta muito de animais né? Tem até um sapo. Porque você gosta tanto deles?

O sapo não é meu. Ele anda comigo porque quer. Por que eu gosto de animais? Por que não gostaria?

Tem gente por aí dizendo que você parece com o Calvin e a Mafalda. Você conhece eles? O que acha disso?

Tenho uma tia que se chama Mafalda. Ela é bem legal, mas acho que não se parece comigo. Ela tem alguns cabelos brancos.

Por que um garotinho como você decidiu que quer mudar o mundo?

Não decidi. Não sei fazer diferente. Eu gosto do mundo, das pessoas e dos bichos. Acho que aqui podia ser um bom lugar pra todos, não só pra alguns. Não acha?

Essa foi uma das matérias que mais gostei de fazer e quero agradecer ao Alexandre e ao Armandinho por falarem comigo. Definitivamente esse Armandinho apronta todas e o Alexandre é um cara legal.

Alexandre Beck: Blog

Livros do Armandinho

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A técnica e o desapego de Gustavo Rodrigues

Pois bem, aqui tem um cara que você precisa conhecer! Gustavo Rodrigues é um ilustrador e designer que sabe o que faz e com certeza vai abrir a sua mente.

Gustavo é uma daquelas pessoas de talento que possuem contas em redes sociais de arte e que fazem você passar raiva pensando “como ele faz isso com tanta facilidade?”. Ele tem um estilo que o identifica e opinião forte sobre como conduzir sua arte, talvez a mais interessante é o abandono da borracha.

Enquanto a maioria se preocupa com a perfeição e em mostrar como é bom no que faz, ele surpreende dizendo que erra e isso não o incomoda. Em vez de tentar fazer a melhor arte de todas, corrigindo cada erro, Gustavo simplesmente desapega deles. Segundo ele os erros são importantes e você deve saber aceitá-los e conviver com eles, pois só assim irá melhorar. Se você apagar cada linha torta que fizer, simplesmente não irá evoluir para a próxima vez que fizer aquele tipo de trabalho.

O trabalho desse ilustrador utiliza diversas técnicas, quase sempre tendo por base a sobreposição de cores para criar profundidade. Desde o esboço, cada cor representa um nível diferente na profundidade do desenho e os resultados são bem legais. Mas com certeza o que impressiona mais no que Gustavo faz é facilidade que ele demonstra na criação de rostos em seus speed paintings. Os treinos são constantes e revelam o seu grande talento.

Então se é um dos que ficam se perguntando como pessoas como ele fazem uma arte tão legal, se prepare e preste atenção. O Urucum Digital perguntou a ele e você vai ficar muito satisfeito em saber que as repostas não foram apenas “treino e dedicação” como todo artista diz.

Com certeza todos que te conhecem logo reconhecem o seu talento. A facilidade que você passa pra gente em tudo o que faz é impressionante. Desenhar, trabalhar com arte em geral, sempre foi assim, algo orgânico para você? Como foi o seu processo de aprendizado até chegar no nível em que você está hoje? Você fez ou faz cursos, aulas?

Antes de tudo obrigado pelo espaço! Acho que como todos os que trabalham com ilustração, o desenho sempre esteve presente. Não me recordo de um período se quer da minha vida que tenha passado sem desenhar, faz parte de mim desde muido cedo. O meu processo de aprendizado é fundamentado em grande parte pela minha vontade de evoluir no que eu gosto. Eu fiz algumas aulas de desenho no curso de graduação, mas foram as únicas.

Você continua aprendendo certo? Constantemente vemos treinos de rostos, speed painting em suas redes sociais. Treinar é algo que te agrada ou as vezes tem que se forçar?

COM CERTEZA! O aprendizado é contínuo e nunca vai acabar, sempre haverá espaço para melhorar. Na verdade os treinos, estudos, sketches (como preferir) são o que mais me agrada, é quando me conecto com o meu eu de 12 anos de idade que desenhava o mesmo power ranger em 100 folhas diferentes e sempre achava que o último era o melhor, até fazer o próximo.

Você é um artista que vive a arte que faz. Seu estilo, roupas, gosto musical, tudo se remete no que você faz. Você considera ideal a arte ser parte de você ao invés de ser puramente comercial? De fazer aquilo que gosta ao invés do que te pedem?

Eu acho que meu trabalho PESSOAL reflete minhas aspirações porque esse é o caminho natural das coisas. Vai sair da minha cabeça o que tem dentro, por mais óbvio que isso possa parecer. Mas isso é só uma parte do que eu produzo, que é o que eu mostro nas midias socias e tudo mais. A outra grande parte da produção são trabalhos comerciais, que não necessariamente representa o que eu gosto. E é muito difícil acontecer um trabalho comercial que se alinhe perfeitamente com o que você gosta realmente, mas isso ajuda o artista a rever suas referências e crescer como profissional, além de assegurar o pão e o leite com nescau. Quando acontece, e os astros colaboram hahaha, surge o trabalho perfeito e com certeza é um deleite.

Sua aparência é um tanto inusitada, de certa forma chama a atenção (Gustavo é um gigante barbudo, forte, com cara de bárbaro, brinco, tatuagens…), quem te conhece o mínimo sabe o quanto você é um cara bacana e gentil, isso se percebe rapidamente conversando com você, mas como as pessoas que não te conhecem reagem a você? Os clientes por exemplo.

Hahaha! Para falar a verdade, nunca prestei tanta atenção na reação dos clientes. Não me recordo de nenhuma situação inusitada. Mas várias vezes as pessoas evitam sentar ao meu lado no ônibus.

Sua relação de amor com sua barba fica clara nos desenhos que faz hehe, algum dia veremos você sem ela?

Um simples e sonoro NÃO hahaha.

Eu já vi você fazendo de tudo um pouco, pintura digital com diversos processos diferentes, pintura tradicional, sketches para se tornarem tatuagens, pintura na parede, participação em trabalhos que viram animações, arte para capa de CDs… qual desses setores você atua mais e qual o processo mais “comum” que você utiliza até chegar na arte final de um projeto?

Atualmente trabalho na Eye Move, que é um estúdio de animação, e a maioria do que eu faço por aqui envolve pintura digital, de diversas formas diferentes. O meu processo de criação é um pouco caótico e nunca se repete completamente (Graças a Deus, não sou só eu!), mas segue alguns passos que são fixos: thumbnails (pequenos rascunhos), rascunho final (quando a composição está melhor definida), definição da paleta de cores e a pintura propriamente dita.

Você erra muito quando tenta fazer algo novo? Pesquisa antes como fazer ou vai metendo a cara?

Com certeza, mas não uso a borracha. Não me apego ao que crio e por isso não espero que vá ser perfeito. Se eu errei vou para o próximo com esse conhecimento acumulado e assim vai. A princípio vou metendo a cara, quando surge alguma dúvida me perco em tanta pesquisa.

Atualmente você trabalha na Eye Move, uma empresa de arte, animação e entretenimento. Como é seu trabalho lá? O mercado local tem aberto boas oportunidades para vocês?

Eu não poderia trabalhar em um lugar melhor, com tantos amigos talentosos! O mercado tem os altos e baixos como qualquer outro e nós vamos firme sem deixar a peteca cair.

Com todo esse talento imagino que todo mundo te peça desenhos, retratos… já pensou em dar aulas ou já trabalha com isso?

Já cheguei a ministrar algumas oficinas e workshops e a experiência foi bem legal! Ainda não tem nada formal, mas penso nisso o tempo todo.

Imagino que como todo mundo você tenha hobbies, vida pessoal… uma vida né? Com tanto trabalho, treino, estudo, sobra tempo para viver?

Se não sobrasse não valeria a pena para mim! Eu gosto muito de praticar esportes, isso é uma das minhas prioridades. Atualmente treino powerlifting e vou até participar de campeonato!! Me casei recentemente, tenho dois cachorros sedentos por atenção, uma família gigante e festeira, então minha vida não é só desenhar. Além disso tudo, sou totalmente contra essa história de virar noite trabalhando, então durmo quase sempre bem cedo.

Para quem está começando agora, como se tornar um bom artista de pintura e desenho? Para onde ir? O que aprender? Onde estudar?

A primeira coisa para mim é assumir o erro como parte do processo. Então jogue sua querida borracha fora e pratique o desapego. Depois é desenho, desenho, desenho e mais desenho. Desenhe até a mão cair, depois custure a mão e continue a desenhar. Quando ela cair de novo, repita o processo. E continue eternamente, é o que eu estou tentando fazer.

Você pode ver mais de Gustavo Rodrigues aqui:

Tumblr

Behance

As fotografias e o romantismo de Maressa Moura

Amor, amor, amor e amor… o amor não tem hora e nem lugar e sempre é uma boa hora para ele. A fotógrafa Maressa Moura percebeu isso bem cedo em sua carreira profissional e não só adotou essa filosofia para sua vida como a tornou o seu negócio.

Quando pensamos em grandes fotógrafos nos vem a mente complicadas composições artísticas, lugares exóticos, cotidianos de culturas diferentes, no entanto Maressa fez do amor uma arte. O simples ato de namorar, viver em família, o casamento ou a chegada de uma nova vida são retratados por essa fotógrafa capixaba como verdadeiras obras de arte que encantam e deixam os mais românticos suspirando.

Apesar da temática simples, as fotos de Maressa não tem nada de tradicionais, no caso dos casamentos, esqueça aquelas fotos de estúdio ou as noivas “bolo” sentadas na grama. Em suas fotografias podemos ver o que há mais gostoso na vida, os momentos únicos de simplicidade e alegria de estar com aquele alguém especial.

Ao invés de retratar apenas as cerimônias, as fotos dessa artista retratam o namoro, ao invés de retratos de família tradicionais, mostram a convivência. Toda essa espontaneidade recria a fotografia e a torna moderna dentro de seu estilo.

Maressa se dedica a conhecer quem irá fotografar e isso torna os resultados muito mais pessoais e interessantes. Sua maior área de atuação é com noivos e por tentar conhecer bem o casal é possível ver fotos sinceras e reais que retratam o namoro nos locais em que eles aconteciam de fato.

A qualidade de seu trabalho é impecável, e isso faz com que muitos fotografados se impressionarem com como saíram “bonitos” nas fotos.

O Urucum bateu um papo com Maressa que foi muito gentil e contou sua trajetória.

Eu conheci o seu trabalho em uma festa bem moderna e descolada, mas hoje sei que a sua maior área de atuação envolve amor, casamentos e família, isso é uma preferência sua ou é o que o mercado pede?

Trabalhar com amor e momentos felizes é uma preferência minha. Acho que as coisas fluem muito mais e é muito mais bacana fotografar um casal apaixonado que um evento corporativo, por exemplo. Mas de vez em quando ainda faço corporativos e coisas mais sérias. Cada um tem seus prós :}

Apesar de você possuir um enfoque mais comercial, suas fotos são bastante artísticas, algumas até poéticas. É difícil conciliar o que o mercado paga com o que você quer fazer? Já pensou alguma vez em fazer ou já fez um ensaio totalmente artístico como alguns nomes famosos fazem?

Acredito que com o tempo de trabalho, vamos definindo nosso público alvo, aquele que quer nosso olhar e nossa linguagem contando sobre sua história. Essas são pessoas que valorizam e que vão pagar o que for proposto. Sobre fazer ensaios artísticos.. já tive diversas ideias, mas a maioria continua no papel. Mas tenho um projeto que gosto muito e já dei o pontapé inicial, se chama ‘amor em preto e branco’.

Você já expôs suas fotos em algum lugar ou tem vontade?

Já participei de duas exposições. Uma foi no festival de Artes da Escola de Missões Urbanas Avalanche e a outra no Café com Prosa. As fotos são de Paris e o nome da exposição era C’est la vie. Com certeza quero expor muitas outras vezes!

Seu olhar é bem diferenciado, suas fotos pré-casamento representam bem o cotidiano do “namoro” de cada casal, diferente das fotos completamente “montadas” que a gente vê por aí. Você sempre teve essa visão ou algo fez você começar a focar dessa forma?

Acho que sempre procurei encontrar algo que fosse a cara do casal nas fotos. Nem que seja uma brincadeira, um costume ou um lugar que eles costumam ir. É bom que eles estejam a vontade, com as roupas escolhidas, com a locação, pra que a sessão flua com a maior naturalidade possível.

Existe alguém “infotografável”? Alguém muito feio ou com o comportamento que torna impossível uma boa foto?

Acredito que todas as pessoas tem o direito de serem fotografadas. Se a pessoa se sente bem com ela mesma, já é meio caminho andado, por mais que não seja linda. Assim como existem pessoas lindas, mas super difíceis de fotografar, pois veem vários defeitos em si e colocam isso o tempo todo pro fotógrafo. Não pode fotografar o nariz de perfil… acha que o braço tá gordo, etc, etc. Isso limita bastante o nosso trabalho. O segredo pra quem será fotografado é em primeiro lugar, gostar de si mesmo.

Uma pergunta que sempre faço aos entrevistados do blog, sabemos o quanto é difícil dar certo, principalmente financeiramente, para os artistas, designer ou qualquer pessoa que usa da arte para viver. Como é com uma fotógrafa?

Graças a Deus, desde que a fotografia me escolheu, nunca tive problemas em relação a grana. Inclusive hoje, vivo muito melhor financeiramente que antes, quando era empregada com carteira assinada. Tem gente que pergunta assustada: ‘mas você só faz isso e sobrevive?’. Não, eu sobrevivo e VIVO muito bem. Melhor do que um dia eu imaginei.

Como foi sua formação, como começou a fotografar, você fez cursos? A família te apoiou ou consideraram um hobby?

Eu estudava publicidade e propaganda e tive duas matérias de fotografia na faculdade. Me apaixonei. Comprei uma camerazinha chulé, fiz uns cursos de fotografia, comecei com formaturas, uns ensaios, aniversários..e as pessoas foram gostando, e eu amando! Daí a pouco percebi que eu ganharia muito mais e seria mais feliz se eu largasse tudo e trabalhasse só com fotografia. Meu pai quase pirou, porque ele gosta de estabilidade e ficou com medo do futuro instável numa nova profissão. Mas fiz um curso de empreendedorismo do Sebrae, o Empretec, que me encorajou muito. Um mês depois de terminar o curso, pedi demissão na empresa que eu trabalhava há quase 6 anos. E sou muito mais feliz agora. 🙂

Você pinta um mundo muito colorido e cheio de amor em seu trabalho, essa é sua visão de mundo ou as vezes é preciso forçar esse colorido apenas para se ter uma boa foto?

Assim como todo mundo, eu também tenho meus momentos ruins, mas não posso deixar isso influenciar na minha fotografia. Sou de extremos. Preciso estar SENTINDO. Se to muito feliz, ou muito triste, vai ser bom o resultado. Um dos ensaios que mais gostei de ter feito, foi minutos após de terminar com um ex namorado.

E por fim, pra quem pretende começar a fotografar, não importa em qual estilo, qual o seu conselho?

Meu conselho é: FOTOGRAFE! Comece de algum ponto. Todos os grandes fotógrafos de hoje, começaram de baixo. É necessário coragem, dedicação e capacitação. Se o trabalho for consistente, ele será percebido e valorizado. É o que busco na minha fotografia. Não quero todos os clientes do ES e do mundo pra mim. Quero os que amem a minha fotografia e os que façam questão de tê-la guardadas pra sempre.

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Henri el magnifico, sua caixa e as viagens pelo mundo

Hoje a postagem é pra lá de especial! Já falei no passado aqui no blog a respeito da arte de Henri Lamy, um incrível pintor francês que retrata o cotidiano em suas obras com uma técnica bem interessante. Foi muito legal falar sobre o seu trabalho, mas sabe o que seria mais legal? Ouvir o próprio falando a respeito. E é isso que vamos ler aqui, um bate-papo com ele.

Ultimamente Henri tem viajado bastante e feito uma espécie de “residência” em outros países, em especial nas Filipinas, onde ele diz ser seu segundo país. Tudo bem espontâneo, nada de apenas galerias ou estúdios de arte, mas uma verdadeira imersão na cultura local. Em suas passagens ele busca conhecer projetos locais e até ensina jovens e crianças um pouco sobre arte ao mesmo tempo aprende com elas.

A conversa foi bem tranquila e Henri abre muito nossa visão de arte, que pode ser algo bem natural e gratificante.

Você tem apenas 29 anos, certo? Suas pinturas são bem maduras e sua técnica é incrível. Com que idade você começou a pintar?

Eu comecei desenhando primeiro. Quando criança eu copiava quadrinhos e mangás. Rostos eram muito importantes. Então eu naturalmente tentei a pintura.

Você usa a espátula para pintar. Como foi a escolha desse estilo?

A espátula simplesmente estava na caixa de ferramentas do meu pai (ele costumava ser um artista).

O que é Rivoli 59? Qual o seu envolvimento com eles?

59 é um estúdio de arte.  Ele reúne 30 artistas no centro de Paris. Quando contei aos meus pais “Eu quero ser um pintor”, foi lá que eu aterrissei. Um maravilhoso pontapé inicial: estar em contato com artistas e listas de visitantes foi a chave para me manter ativo e melhorar o meu estilo. Eu conheci pessoas, fiz viagens, comecei a ver obras de arte com mais regularidade.

Como você recebeu o título de “el magnifico”? *risos*

Meu amigo que colocou. Ele é um talentoso cineasta (kiwi entertainment). Eu não sei se foi sério quando ele fez isso, mas de alguma forma eu achei isso engraçado e então eu aceitei. Eu não quero necessariamente que “el magnifico” seja minha marca.

Você viaja pelo mundo promovendo workshops que ensinam e ajudam jovens pintores. Como esse projeto começou? Em que locais você já esteve fazendo isso?

Não é nada tão formal. Em São Paulo por exemplo, eu fiquei na casa do meu amigo Carlos. Ele fazia parte das atividades de um orfanato e assim que eu soube a respeito, eu quis muito fazer algo também. Porque pintar é algo que deve ser compartilhado.

Eu fiz isso em Hong Kong com crianças autistas também, o conceito foi dançar e pintar ao mesmo tempo. Agora que eu penso nisso, a caixa de capoeira pode ter vindo disso também.

Como surge os convites para essas viagens?

É sempre espontâneo. Eu fui uma criança frustrada por não viajar muito. Uma vez que eu tive condições de fazer isso, eu comecei a ir em toda a parte. Sabe, desde que me lembro, o desconhecido sempre me atraiu.

Você veio ao meu país, Brasil. O que você achou daqui? (Henri esteve no Rio e em São Paulo).

Brasil foi fantástico. Povo acolhedor que me fez sentir a gentileza com a proximidade. Eu fui convidado para dividir refeições, descobrir lugares, melhorar minha capoeira em Guaratingeta com o aniversário de 40 anos da associação mestre Puncianinho.

Além disso, eu achei engraçado como Brasil é parecido com meu segundo país de coração: Filipinas. Ambos são lugares com pessoas acolhedoras e as vezes malucas, criativas e generosas.

Você é um grande fã de Capoeira. Como isso começou? Você é bom? Hehe.

Eu tenho duas lembranças, quando criança, que me martelam a mente. Primeiro, quando meu avô estava morrendo, eu me lembro de gastar muito tempo no jardim, jogando minhas pernas no ar, tentando andar com minhas mãos, como uma forma de aliviar a pressão. Segundo, eu vi um homem fazendo um mortal na piscina. Daquele momento em diante eu me senti atraído por acrobacias. Mais tarde aos 15, eu descobri a capoeira, mas meu grande mestre foram as ruas. Elas me disseram sobre suas viagens, isolamento que puderam sentir e com muita frequência eu me senti próximo a essa filosofia e me ajudou muito a crescer como pessoa e reforçar minha determinação como artista.

Oh my Budha, Modern Gallery, Bangkok, Tailândia 2014

Me conte da caixa de pintura de capoeira, seu projeto atual. Onde aconteceu, como a ideia surgiu? Como foram os resultados, o que o público achou?

Em algum momento eu percebi que tenho feito capoeira a minha vida toda e a mesma coisa com arte. Ambos são formas de expressão, então porque não tentar misturar elas? O público parece receptivo e entusiasmado a respeito, eu acho que porque isso enaltece o poder da arte e o que ela transmite.

Muitos artistas iniciantes lêem o blog. Eu não sei como as coisas são na França ou na Europa para os artistas, mas no Brasil não são fáceis. Arte é subvalorizada e ganhar dinheiro com ela é muito difícil aqui. Que conselhos você pode dar para nós?

Sabe, é a mesma coisa em Paris, exceto talvez porque artistas podem encontrar com facilidade várias instalações então eles tem um lugar para criar. Eu atualmente resido na 100ecs (100 rue de charenton, 75012 Paris), onde eu tenho a intenção de construir uma outra caixa e interagir com o público.

Então, o que eu aconselho em primeiro lugar, é para todos apaixonados por arte, precisa praticar muito para alcançar um manejo especial da técnica.

Em seguida, deve-se levar valores que podem encontrar os sentimentos das pessoas, é por isso que como seres humanos todos nós devemos estar abertos e interligados.

Então como em qualquer negócio, um lado de sua alma de artista tem que considerar a melhor opção para venda. Não hesite em gastar algum tempo com isso também!

Para mais sobre Henri Lamy acesse:

henrilamy.fr

Reinaldo Rocha e A Caverna do Dragão

“Muita coisa na vida agente é por que escolhe ser. Muita coisa agente nasce sendo. E é fácil confundir uma coisa com outra. Eu sei que nasci mineiro e que meu nome é Reinaldo Rocha.”

Assim começa o papo com o artista e professor de ilustração e pintura, Reinaldo Rocha. Ele ficou conhecido por ter ilustrado o quadrinho do final de Caverna do Dragão!

Dungeons & Dragons (Caverna do Dragão, no Brasil) é a lendária série de animação coproduzida pela Marvel ProductionsTSR e Toei Animation, baseada no jogo de RPG homônimo. A série possui 27 episódios divididos em três temporadas, transmitidas originalmente entre os anos de 1983 e 1986 pela rede de televisão estadunidense CBS.

A animação conta a história de 6 jovens que estão presos em um mundo estranho, mágico e cheio de perigos, que tentam voltar para casa, mas nunca conseguem. O desenho se tornou uma lenda por nunca ter um final. Bom em termos, pois o roteiro do final existe e se chama Réquiem (e você pode lê-lo aqui).

Apesar de muito sucesso no Brasil, nos Estados Unidos a série foi cancelada por baixa audiência.

Por que o desenho foi cancelado? Eu era muito jovem para me lembrar, mas eu ouvi que foi por causa de toda a controvérsia religiosa em relação ao jogo.

Não, nenhuma controvérsia afetou o desenho. O cancelamento foi, pura e simplesmente, devido à baixa audiência. Ela estava em declínio ao longo da terceira temporada, e a CBS sentia que eles cairiam ainda mais.

Disse Mark Evanier, que desenvolveu as idéias para o desenho e escreveu o episódio-piloto, A Noite Sem Amanhã, em uma entrevista encontrada no antigo site do escritor e quadrinista Mushi-San. Inclusive, o próprio Mushi-San iniciou um projeto de desenhar o roteiro de Réquiem, porém nunca terminou, deixando a tarefa mais tarde para Reinaldo Rocha.

Veja o trabalho de Mushi-San.

Reinaldo tem um estilo misto, resultado de vários estudos de técnicas diferentes. Como professor ele acha importante conhecer para ensinar, já como artista, sua própria curiosidade sobre técnicas o levaram a esse caminhos.

Ser artista deu muito trabalho, mais sempre foi o que eu sou. Eu sempre desenhei, nunca parei e acho que as pessoas podem ver o quanto eu amo isso e posso levar isso pra elas. O que aconteceu com o Caverna do Dragão que me levou até essa entrevista.

Eu já fiz muita coisa, já trabalhei muito e tem coisa demais pra contar. E falhei tantas vezes que nem sei falar também. Muito sucesso e muito fracasso, sou uma pessoa que não corre da luta.

Confira o papo que o Urucum Digital levou com esse dedicado artista.

Fale um pouquinho da sua trajetória como ilustrador, vem de muito tempo? Você sempre trabalhou com isso?

Sempre desenhei e fazia o que podia pra estudar. Com 13 fiz instituto universal de desenho que minha tia me deu de natal. Eu copiava os desenhos dos quadrinhos que comprava. Era meu jeito de estudar por que não tinha acesso a muita informação. Eu saí da casa dos meus pais com 19 pra estudar em BH, nasci em viçosa, interior de minas. E desde desse dia ate hoje com 29 anos. Nunca parei de trabalhar e de estudar. Já trabalhei pro governo, Casa dos quadrinhos, fazendo animações, brinquedos e produtos pra produção na China, já tive empresa, já trabalhei em empresa de publicidade. Durante muito tempo trabalhar foi minha escola. Por que aprendia com as pessoas de onde trabalhava. Já fui professor, coisa que tenho muita saudade. Trabalhei com jogos, filmes e quadrinhos. Mais sempre fazendo freelances. Até que fiquei 3 anos apenas com freelances. Que é o que faço atualmente, porque gosto muito de viajar e isso me da liberdade. Apesar de estar cansado de freelas e querendo um emprego.

Você é professor de desenho, o que mais gosta de fazer, desenhar ou ensinar? Ou um complementa o outro?

Minha vida toda eu sofri muito por que eu queria muito aprender e ninguém podia me ensinar. Eu morava em uma cidade pequena e meu sonho era ir pra uma cidade grande pra estudar. E na minha época não tinha internet como tem hoje. Quando eu tinha 15 anos na minha casa tinha internet discada. Eu comprava CD na banca pra saber o que tava rolando. Rs

E eu decidi virar professor porque eu quero ajudar pessoas igual a mim que querem aprender, querem perguntar pra alguém e não tem ninguém.

E por falta de material eu li os mesmos livros milhares de vezes, e aprendi as mesmas coisas de jeitos diferentes em diferentes livros porque na procura mesmo sendo a mesma coisa, talvez eu aprendesse alguma coisa nova que fizesse diferença.

E eu aprendi varias métodos de fazer a mesma coisa. E pra fazer melhor eu estudei todas as matérias que envolvem desenho. Por exemplo psicologia, linguagem corporal, fotografia e tudo que eu achasse que podia ajudar.

E acho que isso me transformou em professor por que eu não quero que seja difícil pra outras pessoas como foi pra mim.

Você estuda bastante a respeito de arte, inclusive tem experiência fora do país no assunto. O brasileiro está apto a se desenvolver como artista no exterior ou ainda existem restrições a respeito de arte para quem é daqui?

Eu te juro Vitor o mundo sempre vai estar de braços abertos pra pessoas de talento. O negocio é o dinheiro. Se você quiser estudar em escolas do exterior eles vão te receber muito bem, é só você pagar. Não é tão caro. Eu acho mais barato que estudar aqui. E as escolas de lá são melhores sim.

Mais a respeito de emprego não interessa se você é brasileiro ou qualquer coisa. Interessa se você é cidadão. Em alguns países eles pagam caro pra contratar pessoas de outros países.

Depende do modelo econômico do país. Mais como sempre o negocio é dinheiro. Se você der mais lucro que prejuízo. (Parece Lógico, mais é na verdade uma aposta do seu patrão).

Meu conselho de verdade. A gente vive em mundo globalizado. E você tem internet no seu quarto, acho que tem que parar com essa ideia de vou lá ver o que que rola. Isso é infantil e sonhador.

Você pode trabalhar pra mais de um país pela internet, fazer dinheiro e ir lá passeando.

Seu trabalho e estilo busca um pouco de tudo. Você aparenta ser um cara que gosta de experimentar. Essa é uma característica que sempre foi sua, ou ensinar requer que você conheça e experimente coisas novas sempre?

Eu gosto de experimentar no desenho por que sou assim na vida. Quando era pequeno o primeiro quadrinho que li e pirei foi um Homem-Aranha versus Venom desenhado por Todd McFarlane. Ele falou pra tentar desenhar tudo e não ficar desenhando a mesma coisa. Eu segui o que ele falava por um tempo. Fiz Design Gráfico porque ele fez também. E eu vi um vídeo que fala pra usar filtro solar que falava pra todo dia a gente fazer alguma coisa que assusta a gente. Eu acredito nisso porque acho que a gente tem a capacidade de fazer, mais muitas vezes não faz por medo e por bloqueio. Então vamos botar esse medo pra fora e tentar tudo.

Amyr Klink fala que medo vira respeito e respeito vira confiança. E acho que isso ajuda a ser professor porque ao mesmo tempo em que eu entendo que o aluno tem que transformar esse bloqueio em conhecimento eu posso falar, Rapaz confia em mim que eu sei o que eu tô falando.

E se eu não souber eu experimento. É assim que o aluno ensina o professor também.

Atualmente você trabalha como? O que tem feito?

Estou preparando um jogo com a empresa Eletronic Motion pra GDC da Alemanha. Atualmente é meu projeto mais importante. Mas eu trabalho como freelance. Tenho feito um quadrinho das Tartarugas ninja pro lançamento do filme.

Eu trabalho no meu quarto com um notebook e um monitor em cima de uma caixa de sapato. Larguei a Cintiq e uso a Intuos porque eu consigo relaxar mais enquanto trabalho com a postura melhor rs. Eu mando e-mail pros lugares que quero trabalhar. E escuto Nerdcast e 8tracks. Mais acho não foi essa a pergunta né haha.

Você é o cara que ilustrou o final de Caverna do Dragão! O Réquiem. Como foi essa experiência? Foi muita responsabilidade pegar algo tão querido e cheio de tabus e fazer assim?

Eu gosto muito de desenhar e procurei na internet um roteiro pra fazer em quadrinhos. Achei o do Caverna do Dragão e comecei a fazer por prazer mesmo. Fiz a capa que é a primeira página, minha professora na época falou que daria um excelente trabalho de conclusão de curso. Assim eu fiz. Só que nos primeiros seis meses foi apenas de pesquisa. Tipo de público, quem são essas pessoas, o que compram e tendências futuras.

E no segundo semestre eu iria desenhar e finalizar. Só que sofri um acidente de carro e dei umas capotadas e o osso do pescoço… sinistra. Fiquei um tempo sem andar, mais tinha que formar então eu colava uma folha na parede e colocava uma chão perto da cama ai quando o braço doía eu trocava pra outra folha. Isso com tudo com aquela coleira. Demorei 3 meses pra fazer tudo. E por isso o desenho é um pouco diferente do meu traço normal.

Mas eu voltei a andar, terminei os quadrinhos e me formei. Mas hora nenhuma eu senti essa responsabilidade. Eu me diverti fazendo eu estava preocupado em formar e em andar. Fiquei surpreso com todas as pessoas que ficaram felizes de ver o final e isso me emocionou muito.

Foi um episodio da minha vida que traz muito orgulho de mim mesmo. Eu amei a vida, amei os quadrinhos e lutei ate onde eu podia e acho que esse amor que tirei do peito foi nos quadrinhos como uma onda de coisas boas. Por que é só um quadrinho, mais as pessoas tratam como se fosse um feito muito grande. Acho que as pessoas sabem o que eu passei pra fazer de algum jeito.

É possível ver os seus quadrinhos de Caverna do Dragão em muito lugares, me lembro de ter visto até no Canal Nostalgia do Youtube, que é bem famoso. Isso te abriu muitas portas? As pessoas sempre lembram de te dar os créditos?

Na maioria das vezes sim. O Nostalgia foi o único que errou meu nome, haha. Isso me abriu muitas portas sim. Eu formei, conheci gente legal. Sei que pessoas ficaram felizes. Nunca ganhei dinheiro por causa disso e ninguém nunca me passou freelas por isso também.

Quanto ao canal nostalgia, foi muito legal mesmo. E a animação que eles fizeram ficou muito legal. Muita gente veio me dar os parabéns pelo trabalho, o que foi o melhor de tudo. Fiquei impressionado como as pessoas são gentis e mandam palavras legais.

Não é sempre que temos um professor de desenho a disposição, que dicas você pode dar, tanto para quem está começando, quanto para quem já está no mercado?

Minha dica principal: Vá em busca de você mesmo. Pode ser que você encontre um mestre, pode ser que não. Pode ser que você tenha uma escola, pode ser que não. Pode ser que um monte de coisas que você acha que vai fazer na sua vida, na realidade nunca aconteçam. Mas nunca desista de você mesmo e do que te faz feliz, por que uma hora você tem que aceitar, o mundo não é um lugar fácil, e você não pode parar de lutar.

Se precisar toma seu tempo e respira, Mas sabendo que vai levantar e vai lutar de novo. No seu coração tem todas as respostas que você precisa. E a sua arte vai ser do tamanho do seu amor.  E só você buscar e seguir você mesmo.

Aprender a fazer sua arte e aprender a fazer dinheiro, são coisas diferentes. Com internet vocês tem tudo que precisam. Existem escolas muito boas online. Tipo CDA e Schoolism e Melies. Se você não tem dinheiro existe de graça também. Se você não tem tempo acorda mais cedo, dorme mais tarde. Evita drogas e exageros. Ou qualquer coisa que te roube de você mesmo.

Algumas pessoas vão falar que estudar o renascimento é o melhor, outras que a Indústria diz o que você faz. Faça os dois. Se ta em dúvida se estuda 3D ou ilustração, faz os dois, no caminho você se encontra.

E o segredo maior, não tem segredo. Existe luta. Eu queria falar que não desista que um dia você alcança, mas pensa bem alcançar o quê? Quando você chegar lá você vai parar? Talvez você já esteja muito mais longe do que imagina.

Confira os quadrinho de Reinaldo do episódio Réquiem, de Caverna do Dragão.

Veja mais de Reinaldo Rocha em seu blog.

O estilo de Alexandre Neves

Como sempre o Urucum Digital busca mostrar a arte nua e crua, independente de fama ou mídia. Dessa vez trazemos um ilustrador brasileiro muito interessante e peculiar, o Alexandre Neves.

Com seus traços geométricos e muitas vezes até simpatizantes do surrealismo, Alexandre possui um estilo que chama atenção por ser diferente do que estamos acostumados a ver e até mesmo idolatrar. Com formas simples ele é capaz de passar profundidade e complexidade em seus trabalhos, mostrando que vetor nem sempre é simplificação e pode ter uma riqueza em detalhes tanto quanto outros tipos de arte.

As noções de anatomia e estilização ficam claras em suas ilustrações, fazendo parecer até fácil construir algo nesse estilo. Desde seus esboços podemos ver uma construção geométrica clara sendo formada em seus traços, até mesmo no estilo Cartoon, que assim como o seu estilo “tradicional” tem bem a cara dele.

Com muita simpatia o artista de Guarulhos, São Paulo conversou com o Urucum, falando um pouco sobre ele e dando ótimas dicas.

Eu conheço seu trabalho a bastante tempo do site Deviantart, mas acredito que como eu você tem desenhado muito antes disso. Como foi que você começou a desenhar? Foi por diversão, aulas?

Então, a vontade de desenhar vem desde cedo, sempre li HQs e me maravilhava com o mundo fantástico do RPG. Creio que estes foram os primeiros impulsos para querer desenhar e desenhar.

Você tem um estilo bem próprio, ele me lembra um pouco os trabalhos de Sean Galloway, no entanto a gente vê seu trabalho e sabe de cara que foi você quem fez. Como foi pra você desenvolver seu estilo? Foi algo orgânico, ou um dia você decidiu que faria arte mais vetorial?

Interessante essa pergunta. Só passei a adotar esse estilo devido a necessidade de desenvolver trabalhos vetoriais para publicidade. Percebi que necessitava comer e estar satisfeito com meu trabalho. Ai poderia dizer que entra Sean Galloway, pois além de ser fã, acreditei ser um caminho para o mercado de trabalho e ao mesmo tempo uma linha de produção, tanto para estúdio como agências.

Quem são suas inspirações?

Hum, antes de adotar essa linha mais geométrica e vetorial eram artistas como Wesley Burt e Marko Djurdjevic.  Depois além de Sean Galloway, foram Bob Strang (Von Toten), Eduard Visan e Wagner CG (Bubix).

Atualmente você trabalha de que forma? Faz parte de alguma empresa, ou tem seu próprio negócio?

Atualmente trabalho em um estúdio de animação e desenvolvo alguns jobs de publicidade e story boards para produtoras

Viver de arte a gente sabe que é possível, principalmente quem já vem de uma família influente ou conhece as pessoas certas, mas e no seu caso, como é pra você viver de arte? Enfrenta muitas dificuldades?

Realmente é difícil sim! Mas acredito que um desenhista nada mais é que alguém perseverante. Cheguei a ficar sem trabalhar algum tempo e isso foi decisivo para decidir se continuava ou não. As portas foram sendo abertas bem aos poucos, e com insistência finalmente consegui um pequeno espaço que ainda tento me provar o tempo todo como capaz. Ainda é difícil sim, mas é possível pagar suas contas e ser feliz.

Você trabalha também com concept art, um ramo desejado por muitos. Como é pra você atuar nessa área? O fato de você ter um estilo próprio ajuda no reconhecimento? Pessoas te procuram por isso?

Sim, é gostoso receber um job onde dizem: ” Hey, siga sua linha e esta ótimo”! Geralmente nos pedem um traço com referências e um linha para seguir e uma lista de “regras”. Com o tempo essa linha vai sendo substituída pela sua forma de ilustrar e quando acontece é um sinal que sua busca não esta sendo em vão e que o mercado precisa de gente diferente que tenha trabalhos diferentes.

Eu notei em meio a seus trabalhos uma ilustração muito legal de Jesus, na verdade eu nunca vi um Jesus tão descolado. Não é um tipo de trabalho comum de se ver em meio a tantos super heróis e ilustrações cool ou sombrias que andam na moda. Essa arte remete a sua religião ou foi um pedido de cliente?

Poxa que demais essa pergunta:) Então, cresci em um ambiente Adventista, e sou desde criança. Tenho a figura de Jesus como um ícone da força, luta, perseverança e aquEle que torna tudo possível. É uma imagem que significa muito e posso dizer que é minha primeira inspiração.

Que dicas você pode dar para quem quer se firmar no ramo da arte?

Dicas.. sim! praticar e continuar praticando sempre. É necessário ter uma linha, um caminho pois sem nosso “norte” seremos apenas mais um em meio a milhares. Acredito que deve-se ter disciplina. Não siga apenas seus artistas favoritos, mas veja quem seus artistas favoritos seguem. É preciso entender a raiz de um traço, estilo e linha de pensamento para assim obter uma identidade segura. Acredite em você mesmo e procure sempre críticas e peça opiniões, pois é preciso saber se sua mensagem tem o efeito que você deseja.

Confira mais alguns trabalhos do Alexandre.

Veja mais dele:

Webite
Deviantart

Greg Tocchini

Quando pensamos em grandes ilustradores normalmente nos vem a cabeça estrangeiros, pois quebre a cara com o talento de Greg Tocchini, paulista, nascido em 79 e um dos melhores ilustradores que estão por aí em minha opinião.

“Nasci em São Paulo, mas morei em Guararema, no interior paulista, uns bons anos. A beira do Rio Paraíba do Sul e no meio do mato. A internet era discada, faltava luz 3 dias seguidos quando chovia e celular só de vez em nunca… Foi um dos períodos mais feliz da minha vida.”

Durante um tempo, morei em uma casa a beira do rio Paraíba do Sul. Estes dias quentes me deram saudades dos mergulhos no rio. As ruínas de um antigo porto de areia era um trampolim perfeito naqueles dias. Matei a saudade desenhando.

Começou sua carreira fazendo ilustrações econtos para a revista RPG, Dragão Brasil. Durante esse período, ele também ilustrou edições especiais para a Trama Editorial, chamado Dragonesa (O Dragoness) e Anjos Caídos (Fallen Angels), bem como material para a graphic novel Fábrica de Quadrinhos vol. 01, publicada por Devir. Ele também foi professor e coordenador escolar na Escola de Artes Fábrica de Quadrinhos (Escola de Fábrica de Quadrinhos de Artes) e Quanta Academia de Artes (Quanta Academia de Artes).

Assim como todo mundo, Greg teve e tem suas fontes de inspiração.

“Frank Frazetta, Norman Rockwell, Mike Mignola e Adam Hughes sempre estiveram na minha prancheta e continuam lá até hoje. Atualmente algumas “inspirações” chegam a mim via internet. Tem muita gente talentosa fazendo trabalhos incríveis que nunca teria visto se não fosse por isso. Para citar alguns: Sergey Kolesov, Bengal, Claire Wendling e Kim Jung Gi. Mas no momento, inspiração mesmo vem dos meus colegas de estúdio, Fujita e Calil. Nunca produzi e pintei tanto como agora e boa parte disto é culpa deles.”

Seus primeiros trabalhos para o mercado americano eram, a Primeira, Meridian, Route666 e os mini-série Demônio Wars, para CrossGen Comics, mais tarde seguido por Star Wars, para a Dark Horse e Marvel, Thor: Filho de Asgard, X-Men, Capitão América eo Falcão, Homem-Aranha, Dr-Spectrum e 1602: a New World (um spin-off de Neil Gaiman o original de 1602). Nesta mini-série, ele foi capaz de criar o visual e desenhos de personagens como Homem-Aranha, Hulk e Iron-Man. Para a DC Comics fez ION, com o escritor Ron Marz, Batman e Robin, bem como o one-shot Search For Ray Palmer: Gotham By Gaslight que o levou de volta a Marvel para fazer Odyssey e Wolverine: Father.

Ele foi o artista para a mini-série The Last Days of American Crime escrita por Rick Remender, para Radical Comics.

Sua técnica é invejável e seu estilo bem característico, com traços expressivos e uma certa abstração em suas obras, Greb Tocchini é um grande artista e uma ótima fonte de inspiração.

Veja mais de Greg Tocchini em seu Blog e em seu Facebook.

As criaturas da Sweet Monster

Você nunca imaginou que monstros poderiam ser tão fofos. A Sweet Monster é uma lojinha virtual, sediada em Vila Velha, Espírito Santo – Brasil, muito divertida que desenvolve um trabalho bem legal e incomum de Toy-Art, Craft e Design com temáticas de terror, bandas e do universo lúdico.

Almofadas, imãs, chaveiros e toys, tudo feito com muita criatidade e humor. A loja ainda personaliza seus trabalhos de acordo com o cliente, basta encomendá-los com a sua escolha. Não é muito difícil se encantar com os trabalhos.

A Sweet Monster foi criada por Gabriela Queiroz e tem uma história interessante e bem recorrente atualmente. Trabalhar com arte de forma satisfatória tem sido muito difícil num mercado onde arte e design são vistos como necessários porém não valorizados do ponto vista financeiro. Ganhar dinheiro “fazendo arte” não é simples nessas condições.

O Urucum Digital conversou com Gabriela que falou um pouquinho de seu trabalho e deu algumas dicas, tudo com muita simpatia.

Eu sei que você queria ser ilustradora, entendo bem o que é isso porque eu também passei pela mesma vontade e tenho minhas próprias experiências sobre o assunto. Como foi pra você esse período de procurar trabalho nessa área?

Me formei tem 3 anos em Design Gráfico, mas trabalho com isso desde os 17/18 anos de idade. Trabalhei em gráfica, produtora de vídeo, agência e fábrica de roupa criando estampas, mas sempre quis trabalhar mesmo com esse lado mais “lúdico” do Design, ilustração etc. Confesso que procurei pouco trabalho como ilustradora mesmo, pois é um mercado MUITO difícil pelo menos aqui no ES, peguei alguns freelas somente ilustrando. O único lugar que trabalhei como “ilustradora” mesmo foi desenhando estampas para uma marca de roupa daqui de Vila Velha, a ZU.

Você ainda ilustra?

Ilustro sim, muito pouco mas quando dá tempo ainda faço meus rabisquinhos rs.

O fato de você trabalhar com criatividade e ter suas próprias ideias contribuiu para desistir de trabalhar para os outros e começar o seu próprio negócio? Do seu jeito e com a sua cara.

Sim com toda certeza do mundo! Primeiro que gosto de ter liberdade na hora de criar e segundo descobri que poderia ser mais feliz trabalhando por conta própria. Sempre tive vontade de montar um negócio, só que nunca dava certo pois não tinha muito empenho e incentivo e achava que não ia ganhar dinheiro com isso. Foi quando depois de um tempo trabalhando em um escritório de design percebi que minha saúde estava indo pro brejo, estava insatisfeita e stressada. Aí decidi largar o “estável”  para tentar começar um negócio.

Você tem um estilo todo próprio, com tatuagens e gostos diferentes da maioria, isso ajudou a escolher o ramo dos “monstrinhos”? De onde veio a ideia?

Desde nova sempre tive interesse em bonecos, monstrinhos, em temas de terror, coisa lúdicas, bandas e etc e foi nisso que me inspirei pra montar a Sweet Monster toys. Quando era mais nova desenhava e criava muitos monstrinhos, sou fissurada pela figura do Frankenstein e sempre tive esse gosto meio “peculiar”. E  mesmo atualmente a maior parte das encomendas serem pedidos de personagens de outros, ainda crio alguns e os desenvolvo com meu próprio estilo.

O trabalho que você faz é bem diferente de outros toy art que conheço, isso ajuda você a se destacar?

Nos bonecos que eu mesmo crio eu tento sempre colocar detalhes, acho que detalhes fazem toda diferença em uma peça ou ilustração, e SEMPRE gosto de inserir elementos desproporcionais.

Você se diverte com o que faz? Porque a impressão que dá nas suas redes sociais é de que tudo é uma grande brincadeira para você, inclusive o resultado do seu trabalho é bem divertido.

TOTALMENTE!! ahhaha eu amo o que faço!! Trabalho ouvindo música, vendo filme, seriado, documentários etc e me pego as vezes falando sozinha rs. É tipo uma brincadeira de gente grande!! hahaha

Eu quase todos os dias fico de 8 horas até 20/21 horas trabalhando e não troco essas horas todas de trabalho por outro tipo de trabalho nuncaa =)

Você acha que o futuro para artistas, designers, e todas as pessoas que trabalham com criatividade e que não são valorizadas no mercado é começar seu próprio negócio ou abrir seu próprio estúdio/galeria?

Com certeza. Apoio totalmente! Quando você trabalha nessa area pra outros, acaba limitando sua criatividade e você nem consegue exercer seu potencial da melhor forma. E você pode pensar assim, “ah mas nem vou ganhar a grana que ganho trampando em tal lugar etc”..mas ganha sim! Até mais quando você se empenha mesmo. Basta persistir .

O artista hoje tem que ser um empresário também? Que conselhos você pode dar?

Atenda muito bem seus clientes, seja tipo amigo deles. Dê total atenção à ele, queira sempre surpreende-lo também. Seja sempre honesto e claro a respeito do seu trabalho, Isso acho que é o que faz MUITO a diferença. Tenha amor por aquilo que faz e cuidado também com os detalhes, e quando errar admita. Só isso mesmo =)

Atualmente a Sweet Monster possui sua loja virtual e você pode conferir aqui. Veja também seu Flickr e seu Facebook.

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