Já reparou que as pessoas que trabalham com arte tem dificuldade de serem compreendidas pelo restante do mundo? Isso porque o artista tem uma forma de pensar única e isso fica ainda pior quando essa comunicação se dá com alguém que possui um raciocínio lógico mais forte. Pensar abstrato para essas pessoas é praticamente impraticável em algumas situações.
As brigas entre designers e desenvolvedores, por exemplo, são corriqueiras e praticamente eternas.
Uma equipe interdisciplinar torna qualquer trabalho mais rico, reunir muitas pessoas com formações e treinamento diferentes significa muito mais idéias sendo geradas, novos métodos sendo desenvolvidos, designs mais criativos e originais sendo produzidos. No entanto, o fator negativo diz respeito aos custos envolvidos. Quanto mais pessoas com formações diferentes em uma equipe, mais difícil pode ser fazê-las comunicarem-se e fazer avançar os projetos desenvolvidos. Por quê? Pessoas com formações diferentes apresentam perspectivas e maneiras diferentes de ver e falar sobre o mundo.
Não diferente disso, a comunicação entre o designer e o desenvolvedor pode ser um desafio.
O grande problema é que é preciso entender o outro para evitar maiores discussões. Muitas vezes o designer e o desenvolvedor querem as mesmas coisas e até mesmo brigam pelo mesmo objetivo, porém de formas diferentes. É comum esses dois profissionais serem pegos batendo boca sendo que tem a mesma coisa em mente, mas não sabem se comunicar.
O desenvolvedor tem sua própria visão do papel do designer e vice versa. Eis alguns pontos que podem ajudar a evitar maiores problemas.
Não entender de execução
Cada mídia tem seu sistema próprio de funcionamento. Criar não pode ser independente do que será posto em prática. Projetar para determinadas plataformas tem restrições e tecnicalidades que precisam ser levadas em conta. Não entender ou insistir em executar algo que é impossível, do ponto de vista lógico, é motivo para estimular a ira de qualquer desenvolvedor. Cabe ao designer aqui entender como as coisas funcionam.
Tudo ser estilizado
Designs ricos, cheios dos famosos “frufrus”, como dizem os desenvolvedores, devem ter limites! 500 fontes num mesmo trabalho ou arquiteturas incomuns deveriam ser proibidas por lei se dependesse deles. O caso que tudo deve ser uma negociação. Implementar qualquer coisa fora dos padrões da plataforma em que se está trabalhando gera um custo tempo/esforço. Nem sempre é possível implementar tudo que se deseja por causa disso, daí é preciso negociar o que pode ser feito de fato sem prejudicar o andamento do projeto.
Projetar as cegas
Como já foi dito cada plataforma tem restrições e cada projeto suas particularidades: tempo, dificuldades, etc. Mesmo conhecendo de execução, projetar algo sem consultar antes o desenvolvedor, sem saber se é viável para aquele projeto pode criar uma batalha desnecessária. Todos nós sabemos (mesmo que na teoria) como é feito um bolo, mas somente quem conhece a cozinha pode dizer porque aquele forno, em particular, precisa de um tapinha na lateral para funcionar.
“Isso vai ser fácil, né?”
Nunca, eu disse NUNCA suponha que algo é fácil para um desenvolvedor. O processo de desenvolver algo é totalmente diferente de projetá-lo. Operar softwares de imagem tem uma dinâmica totalmente diferente de se programar algo por exemplo. Além disso, cada desenvolvedor tem suas habilidades e dificuldades. O que pode ser rápido e simples para um, pode não ser para outro. Na dúvida se algo é “fácil” pergunte, mas com jeitinho por favor.
“Não da pra ficar preso a código!”
Aqui temos uma faca de dois gumes, por natureza os desenvolvedores procurarão aquilo que é mais simples para eles e confortável de fazer, o objetivo de muitos deles, principalmente se não tem o hábito de trabalhar com um designer é que o que estão fazendo funcione, não importa como ou a estética. Diferente de quem trabalha com arte, que na maior parte das vezes se desafia a ir além de sua capacidade, o mais simples nem sempre passa aquele “feeling” desejado. Isso não quer dizer que um desenvolvedor não busca aprender algo novo, mas que para ele “se funcionou tá bom”, o que nem sempre funciona para um projetista. Apontar para a cara de um desenvolvedor e dizer que não da para fazer do jeito que ele quer só para o código dele ficar mais limpo não é boa ideia. Muitos deles não entenderão essa necessidade, no entanto eles não estão errados em querer facilitar sua vida, afinal quem irá encarar linhas complexas de códigos serão eles. Um bom diálogo e muita paciência são a solução para essa questão, entender que se trata de uma negociação para se chegar a um acordo, e como em todo bom acordo ambas as partes ficam insatisfeitas no final.
“Use tabelas para fazer os layouts”
Se entender o mundo dos desenvolvedores é complexo, entender o dos designers então é praticamente impossível! Jamais peça a um designer para projetar seguindo uma tabela ou um padrão, isso pode funcionar nos códigos, estruturar informações, porém designers tem sua própria forma de arquitetar conteúdo, diagramar. “Criar não pode ter limitações”, assim pensarão muitos designers. É preciso dar essa liberdade criativa para eles trazerem a vida algo único, especial, o diferencial que irá destacar o projeto. A princípio o que o designer faz pode parecer o caos para um desenvolvedor, no entando dar esse espaço e confiar na sua capacidade é importante, afinal há uma razão para ele estar fazendo as coisas dessa forma… mesmo que não pareça.
“Quebre o design em guidelines”
Você é louco? Quer começar a terceira guerra mundial? Como você pode pedir para que alguém divida a Monalisa em diretrizes? Como criar a estátua da liberdade em etapas?! O processo de se projetar algo pode ser totalmente abstrato, ideias surgem ao acaso, criar é contemplativo e lento (ou pelo menos deveria ser, mas como atualmente prazo é tudo). Um designer é uma pessoa atenta a tudo: prazo, feeling, criatividade… e tudo isso ocorre ao mesmo tempo, é comum tudo mudar de repente de acordo com os acontecimentos no decorrer do projeto. Infelizmente a incerteza é algo que um desenvolvedor terá que aprender a lidar quando estiver trabalhando com um designer.
Complicando a funcionalidade
É irritante para um designer ver como a forma metódica de um desenvolvedor está atrapalhando a funcionalidade de um projeto. Designers entendem que aquele projeto será usado por pessoas das mais variadas, ver o lado humano e inovar são coisas óbvias para eles. Pessoas usarão aquele formulário de cadastro feito para aquele site, logo não faz sentido coletar milhões de informações, mesmo que estas sejam importantes para as estatísticas mais tarde, só o que você irá fazer é com que as pessoas desistam de preencher aquilo tudo e não se cadastrem. Lógica pura e simples não ajuda aqui, estamos lidando com pessoas.
“Mas isso não está nos requisitos!”
Não é a toa que criação tem esse nome. É comum durante um projeto designers terem aquela ideia genial para algo que não estava planejado, a primeira reação de um desenvolvedor nesse caso é se recusar a fazer além do que estava planejado ou em mudar algo já definido. É preciso entender que se há a possibilidade de criar algo que deixe o resultado final ainda mais interessante, vale a pena o esforço. Designers se apaixonam pelo que fazem e querem ver o melhor resultado possível e isso inclui ir além. Não é algo forçado, simplesmente acontece. Antes de ser contra uma ideia fora da planilha tente abrir sua mente, deixe o roteiro um pouco de lado e tente ver o quanto essa decisão de incluir ou mudar algo pode fazer toda a diferença.
“Você só precisa deixar bonito”
Esqueça tudo o que vimos anteriormente sobre irritar um designer, nada é mais grave do que dizer que ele só deve deixar algo bonito. Entenda que o designer é um projetista, anos de estudo de comportamento humano, desenvolvimento de habilidades individuais, acúmulo de bagagem cultural, treino, composição, técnica, aprendizado de ferramentas, tudo somado para resultar em um grande projeto funcional, usável, eficiente e atrativo para um determinado público resumido em “você faz coisas bonitas”. Se você tem amor ao seu pescoço de desenvolvedor não faça isso! Imagine alguém que ache que você só faz o “troço” funcionar, está apenas dizendo a máquina o que fazer. Você sabe o quanto é complicado desenvolver aquele código, não é simplesmente “quero um botão aqui” e pronto, há muito mais envolvido por trás disso. Então lembre-se daquele velho ditado “não faça aos outros o que não gostaria que fizessem com você”, em outras palavras se coloque no lugar do coleguinha e entenda que o que ele faz não é fácil.
Com tantas diferenças é importante lembrar algo que os desenvolvedores e designers tem em comum, ambos odeiam o ego do outro.
Sim, somos orgulhosos. Queremos um ser superior ao outro, mas na verdade precisamos entender que somos uma equipe. Nem um projeta com o que o outro desenvolve e muito menos um desenvolve com que o outro projeta, fazemos tudo juntos para resultar no melhor. Uma equipe interdiciplinar colaborando para os melhores resultados.
[…] post aqui do blog gerou certo desconforto por usar exemplos artísticos para exemplificar a […]