Você já trabalhou em um local em que teve que fingir que entendia o que alguém estava falando para não parecer pouco inteligente ou ter pouco conhecimento? Alguém já te convidou no trabalho para uma “meeting” ou fazer uma “call”? Então provavelmente você caiu dentro da esfera das buzzwords.
Na maioria das vezes, buzzwords, são uma tentativa “chic” de falar para impressionar. É uma palavra ou frase, nova ou já existente, que se torna popular por um período de tempo, sim as buzzwords costumam ter tempo de vida. Buzzwords geralmente derivam de termos técnicos, mas muitas vezes têm muito do significado técnico original removido pelo uso da moda, sendo simplesmente usados para impressionar os outros.
No Brasil, a maioria das buzzwords vem de línguas estrangeiras como o inglês. A própria palavra buzzword deriva da língua inglesa, onde buzz, significa barulho, zumbido e word, palavra. Basicamente são palavras que causam barulho, causam efeito, chamam a atenção.
Esses chavões não aparecem simplesmente, eles são criados por um grupo de pessoas que trabalham dentro de uma empresa, como um meio de gerar “hype”, outra buzzword que significa exagero de algo, ou em marketing uma estratégia para enfatizar alguma coisa, ideia ou um produto. É um assunto que está dando o que falar, é algo que está na moda e que é comentado por todo mundo.
Para você entender melhor como funciona. Hype é uma abreviação da palavra Hyperbole em Inglês, traduzida literalmente como “Hipérbole” em português. Hyperbole significa uma declaração ou reivindicação exagerada que não deve ser interpretada literalmente, porém sua buzzword “Hype” já se traduz como “Moda” ou “Em alta” e algo que deve ser admirado e receber bastante atenção.
Buzzwords não necessariamente são ruins, muitas profissões da área criativa as usam, mas elas dificultam a comunicação e a produtividade, por mais que você esteja acostumado com elas. É comum profissionais que passam anos ouvindo no trabalho buzzwords, saberem mais ou menos do que se trata, mas sem a menor ideia do que significam.
Buzzwords prejudicam a comunicação
Existe uma música do cantor Zeca Baleiro chamada “Approach” que brinca com as buzzwwords.
“Venha provar meu brunch
Saiba que eu tenho approach
Na hora do lunch
Eu ando de ferryboatEu tenho savoir-faire
Meu temperamento é light
Minha casa é hi-tech
Toda hora rola um insight”
Pode parecer “cool” as vezes, quero dizer, pode parecer legal, mas as buzzwords não possuem aplicação prática. Em um dia a dia de trabalho, a comunicação deve ser clara, dinâmica, eficiente, mas sobre tudo, a comunicação deve existir. Talvez você já tenha tido o desprazer de atuar com um chefe que não era claro, não comparecia a reuniões, não te respeitava ou não se comunicava com você. Talvez até dando prazos impossíveis e que mais tarde não assume a responsabilidade quando algo dá errado, mas é o primeiro a se vangloriar quando algo dá certo. Isso tudo acontece pela falta de clareza e comunicação e somado a um cenário desses, as buzzwords prejudicam o trabalho ainda mais.
Elas, as Buzzwords, muitas vezes são uma forma de falar muito sem na realidade dizer nada. Uma forma de fazer algo parecer muito mais importante e complicado do que realmente é. Pegue a profissão na qual atuo por exemplo. Eu sou um UX Designer, mesmo traduzindo literalmente para o português, Designer de experiência do usuário, é comum as pessoas me perguntarem “o que é isso?”, quando eu digo o que faço. Agora, quando eu digo que sou um projetista, logo na sequência vem a resposta “que legal, você projeta o quê?”. A comunicação se torna muito mais eficiente quando eu de fato falo o que faço, ao invés de tentar me engrandecer com títulos complicados.
Como eu disse, nem toda buzzword é ruim. Termos como designer já se popularizaram no Brasil, mas isso só foi possível por ser um termo que rompeu a bolha do meio empresarial e se tornou algo que caiu na boca do povo em geral. Vamos ser mais claros ainda, um médico ao falar que é um angiologista pode causar dúvidas a respeito do que ele faz, mas se ele fala que é um médico, que cuida de veias e artérias, já fica bem mais claro. Otorrinolaringologista também é uma especialidade médica complicada de se entender, mas assim como designer é um termo que se popularizou como o conhecido “otorrino”, aquele que cuida do ouvido, nariz e garganta.
Português dá conta do recado
A língua portuguesa é riquíssima e tem palavras para absolutamente tudo, mas mais importante que isso, quando falamos do meio empresarial, nada passa mais claro a informação do que nossa própria língua nativa. Chamar uma reunião de “meeting” ou até mesmo de “agenda” é uma tentativa de fazer seu trabalho parecer muito mais importante e complexo do que realmente é.
O termo ghosting por exemplo. Ele é uma gíria estrangeira que significa o ‘sumiço’ em relacionamentos. Aquela pessoa que do nada parou de atender suas ligações e some, para talvez mais tarde reaparecer como se nada tivesse acontecido. Se você nunca tinha escutado esse termo, provavelmente precisou da explicação para o entender, mas se eu tivesse usado um termo em português, provavelmente você entenderia né?
Mesmo sendo difícil de entender, ghosting é usado como uma gíria, logo sem grandes consequências, mas e no trabalho? Quando é necessário explicar algo que deveria ser simples, em um ambiente de trabalho, isso é um problema. Quando falamos do trabalho de um designer por exemplo, ou seja, de um projetista, saber que “Design Thinking” significa se colocar no lugar do outro para entender melhor seus sentimentos, seu comportamento e seus desejos; que “Lean” significa enxuto, buscar utilizar o mínimo de recursos, os reduzindo ou até eliminando atividades que não agregam valor; que “Lead Designer” é o designer mais experiente da empresa e responsável por tudo que ali eles associem a entrega da disciplina, mas que “Lead” é apenas “oportunidade”, é uma oportunidade de negócio para a empresa ou saber que “Agile” é uma forma de se organizar e gerir projetos com o objetivo de obter resultados de forma mais eficiente, aumentando a produtividade dos processos sem perder a qualidade do produto final, uma forma de trabalhar “ágil”, saber todas essas coisas de forma prática, rápida facilita o trabalho, e mais, quando se fala de forma clara com os clientes, os resultados são infinitamente melhores.
Ansiedade por não entender
O medo constante no trabalho, escola ou universidade/faculdade de não entender algo ou até mesmo se passar por “burro” é constante e hoje em dia é até objeto de estudo. Na era da informação, demonstrar não saber algo pode ser constrangedor, porém não devemos nos abater por isso.
Demonstrar não saber algo, ou dizer que algo não ficou claro, não deve assustar. Ter a capacidade de perguntar do que se trata ou dizer que não entende é uma forma de aprendizado, muitas vezes você pode não ter entendido pelo simples fato de não estarem sabendo explicar ou serem claros.
Não deixe o medo lhe causar ansiedade, isso prejudica a saúde, o aprendizado e sinceramente, o medo de buzzwords ou de não saber algo, não merece o seu mal estar, prejudicar a sua saúde ou seu desassossego.
Sendo um profissional melhor
Termos técnicos devem ser mantidos no âmbito do estudo acadêmico e entre profissionais da área, onde eles fazem sentido e mesmo assim, com ressalvas. No trabalho a comunicação deve ser compreensível, ágil, objetiva. Ser um profissional melhor significa fazer um bom trabalho, mas acima de tudo, se fazer ser compreendido por todos e disposto a ajudar, seja o seu cargo de chefia ou não.
Evite as buzzwords e se concentre mais em ter objetivos claros, esteja sempre disposto a aprender e sem medo de perguntar o que você não sabe ou não entendeu. Desenvolva habilidades técnicas e comportamentais, ensine quem precisa aprender, mas se afaste de quem não merece o seu conhecimento ou a sua atenção. Saiba ouvir críticas, cultive a sua rede de contatos e esteja sempre se atualizando e especializando na sua área. Não importa o que você faça, tente sempre ser o melhor no que você faz. Tudo isso vai fazer de você um profissional melhor, sem a necessidade de fingir ser algo mais importante do que você é, com o uso de busszwords. Afinal, você não precisa parecer algo, quando de fato você é.