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Sinestesia no Design

Sinestesia, para quem está achando essa palavra estranha, é a relação entre planos sensoriais diferentes: o visual com o paladar, a audição com o tato, o olfato com a visão e todas as outras combinações possíveis. Ainda está um pouco nebuloso? Geralmente, a sinestesia é uma figura de linguagem que utilizamos: sentir o cheiro verde das matas (olfato+visão), ou a sonoridade aveludada de um instrumento (audição+tato). Porém, ela é também tratada como um fenômeno neurológico.

Existem pessoas que consideram, por exemplo, que o número 4 é azul e que a nota musical ouvida é amarela, ou ainda, que a palavra cortina tem gosto de café. Para a grande maioria difícil de imaginar tais associações. Porém para os sinestésicos é algo normal. Para eles todas as pessoas têm as mesmas percepções. Você tem? Estima-se que o fenômeno atinja uma em cada 300 pessoas.

Muitos escritores utilizam as metáforas sinestésicas como forma de enriquecer seus textos e transmitir uma quantidade de sensações ainda maior ao leitor.

“E um doce vento, que se erguera, punha nas folhas alagadas e lustrosas um frémito alegre e doce.” (Eça De Queiros)

E são inúmeros os joguetes de associações que vemos por aí.

Food-Art-Pairings

Pantone Musical da  Chic & Artistic

Quem ficou verde de raiva ou roxo de fome? Como disse Gisele Monteiro, As Cores Falam!

E não somente elas. A forma, os cheiros, os ruídos… Se a sinestesia já foi tratada como um distúrbio, atualmente ela é objeto de estudo, de estímulo e de investigação no design.

Machael Haverkamp é pesquisador da Universidade de Colônia, na Alemanha, e investiga as percepções corpóreas do som.

“O design sinestésico baseia-se no melhor alinhamento possível entre os aspectos do design e a percepção multissensorial dos objetos pelas pessoas”, diz Michael Haverkamp

Seu trabalho, como o de outros pesquisadores da área, ajudou designers a desenvolverem interfaces gráficas de tocadores de música de computador, como o Windows Media Player. Na verdade, trata-se daquelas que aparecem na tela do computador enquanto a música toca – um dispositivo que muita gente evita, reclamando de dores de cabeça depois de algum tempo de uso. Existem vários experimentos no YouTube que mostram como as partículas de areia se agrupam criando formas distintas conforme a frequência sonora.

Para se ter um pouco da noção do poder que a sensação tem sobre a informação e o comando em nosso cérebro, tente o seguinte teste.

Aos poucos, vem se descobrindo o valor que essas multi-sensações provocam. A associação de mais de um sentido é uma nova informação para a apreensão de significado. Ou seja, conseguimos absorver e fixar mais a informação porque nossa memória tem a possibilidade de ser ativada de formas distintas. Mais ou menos igual quando você associa o nome de uma pessoa que você já acabou de conhecer com uma que você já conhece.

Pesquisadores já tentam desenvolver materiais pedagógicos para alfabetização que usam a sinestesia. A americana Frog Design desenvolve um sistema de leitura no qual a criança pode associar odores às letras. O som do “A” pode vir acompanhado do delicado odor da maçã (apple, em inglês), e o “C”, do delicioso aroma de chocolate. “Nós estaremos perdendo oportunidades preciosas, se não formos capazes de explorar todo o potencial dos sentidos”, diz Laura Richardson, designer e diretora da Frog.

Na minha infância, quando estava na iniciação musical, eu coloria cada nota na pauta em uma cor específica. De alguma forma, isso facilitou o meu aprendizado, ainda que eu não enxergue nenhum dó vermelho :(

É cada vez maior a importância dada ao que vem sendo chamado de design multisensorial. As grandes marcas e os designers tem se preocupado com as qualidades que atribuem e que transmitem. Já são inúmeras as lojas que possuem uma fragrância patenteada, basta lembrar do cheiro da Melissa. Mas ainda é um campo novo para a grande maioria de nós. Afinal de contas, como podemos adicionar mais sinestesia ao nosso design?

Para finalizar, deixo o video do designer Jinsop Lee. Apesar das piadas jocosas, a reflexão que ele apresenta de forma bem didática, questiona porque um bom design teve ter mais do que uma ótima aparência.

Referências:

Ouvindo cores

A cor do som e o som das cores

Sinestesia

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