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Até Quando Esperar

"...mas a gente pode continuar, eu gosto de você."

"Preciso tirar um tempo pra mim."

"Então nós vamos dar um tempo?"

Conversava Fabrizio por mensagens no celular, enquanto estava sentado em um banco de rua. Escolheu um local bonito e agradável para tentar salvar o seu relacionamento.

"Mas afinal, quem conversa coisas sérias como essas por mensagens ou telefonemas? As pessoas deveriam ser capazes de pelo menos conversar pessoalmente!" - pensava indignado, incomodado com a frieza dos relacionamentos de hoje em dia.

Com os olhos cheios de água, mas sem derramar nenhuma lágrima, porque afinal homem não chora, Fabrizio continuava esperando por respostas, mas que pararam de chegar e pelo visto, não chegariam mais. Nesse momento algumas lágrimas começaram a escapar.

- Droga. - limpava o rosto, tentando disfarçar o choro.

- Você está bem? - perguntava alguém, enquanto se sentava ao seu lado.

Fabrizio olha para o lado e avista uma senhora sentada.

- Não é nada importante. - respondeu.

- Mas perder alguém é algo muito importante.

Fabrizio ri sem graça.

- Me diga, a quanto tempo estavam juntos?

- Pouco tempo... mas já estavamos nos gostando muito.

- Ela deve ser muito especial então. Você conheceu a família dela?

- Bem, não...

- No meu tempo a gente conhecia a família antes de começar a namorar, hoje vocês jovens já começam pelo final, não é assim que fazem?

Totalmente sem graça de falar de sua vida sexual com uma senhorinha, ele apenas fica mudo, enquanto assiste a coroa sorrindo, até tomar coragem e dizer algo.

- Eu não acho que vou encontrar alguém como ela mais.

- Antigamente, perder alguém, era algo muito sério. Principalmente no interior. Não se achavam opções em cada esquina, sabe? Terminar um relacionamento, significava, talvez, ficar sozinho por muito tempo. Em alguns casos para a vida toda. Claro que as pessoas também aproveitavam a vida, sem compromisso, mas não era como hoje em dia.

- Eu não me importaria de esperar por ela, sabe, dona...?

- Carola meu filho, mas todos me chamam de dona Carol.

- A senhora é casada dona Carol?

- Sou sim, mas não está aqui agora.

- Falecido? - Fabrizio já preparava um "sinto muito" para soltar na sequência.

- Oh não (sorria), apenas foi embora.

- Como assim?!

- Ora, não se assuste tanto. Ele foi embora porque precisou trabalhar. Vai demorar um pouco porque a viagem é longa. É de barco sabe?

- Ah claro...

- Eu estou esperando ele voltar.

Fabrizio fica feliz ao ouvir uma história como a da senhora e inveja um pouco a situação de ter alguém que mesmo longe é mais fisicamente presente do que seus últimos 3 relacionamentos.

- Então jovem, me diga, o que decidiu fazer a respeito da menina?

- Sinceramente não sei, penso em ir atrás, tentar convencer a continuar o que começamos. Não quero desistir.

- Se ela te amar, então vale a pena. Você tem que se perguntar até quando vale a pena meu filho. - Dizia a senhora se levantando.

- Obrigado, de verdade. - Disse Fabrizio enxugando o rosto.

- Não por isso.

Ao olhar novamente em volta, o jovem coração partido não avistou mais a senhora simpática que o consolava e assim decidindo ir embora.

Se levantando, Fabrizio avista uma placa no banco onde estava sentado, que dizia: "Monumento em homenagem a Carola Amorim, esposa do general George Amorim, morto em serviço em 1945. Carola, sem saber do ocorrido, esperou pelo regresso de seu marido por 20 anos nesta praça, até seu falecimento."
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A arte cyberpunk sombria e encantadora de Josan Gonzalez

Josan Gonzalez é um renomado artista cujo trabalho é uma expressão cativante da estética cyberpunk sombria. Com uma habilidade excepcional, ele combina elementos futuristas, distopia urbana e uma dose de melancolia para criar obras de arte verdadeiramente encantadoras e intrigantes.

A arte de Gonzalez mergulha os espectadores em um mundo caótico e sombrio, onde a tecnologia e a humanidade colidem de maneira inquietante. Suas pinturas apresentam uma mistura única de elementos robóticos, implantes cibernéticos e ambientes urbanos decadentes. Cada detalhe minuciosamente elaborado retrata uma narrativa rica e complexa, convidando o observador a explorar as profundezas da imaginação de Gonzalez.

A paleta de cores escolhida por Gonzalez é um elemento distintivo de sua arte. A habilidade de mesclar tons intensos de néon e sombras profundas cria uma atmosfera de mistério e desolação. As luzes brilhantes iluminam figuras solitárias, enquanto as sombras envolvem a paisagem urbana, evocando uma sensação de isolamento e solidão. Essa dicotomia entre o brilho e a escuridão é uma marca registrada do estilo de Gonzalez, e é o que confere à sua arte uma beleza intrigante e hipnótica.

Gonzalez retrata frequentemente os personagens em suas pinturas em situações desafiadoras e opressivas. Eles personificam a luta da humanidade contra uma realidade distópica, onde a tecnologia invasiva e a corrupção desenfreada têm um papel central. No entanto, as expressões e poses que ele cria para os personagens também revelam um senso de esperança, uma chama de resistência que se recusa a ser apagada. Essa dualidade entre desespero e determinação adiciona uma camada adicional de profundidade emocional às obras de Gonzalez.

A atenção aos detalhes é outro aspecto impressionante do trabalho de Gonzalez. Cada engrenagem, cada fio e cada textura são cuidadosamente trabalhados para criar um senso de realismo e imersão. Os ambientes urbanos em ruínas são repletos de elementos visuais fascinantes, como placas de neon brilhantes, grafites caóticos e anúncios holográficos piscantes. Esses detalhes minuciosos convidam os espectadores a explorar cada canto da cena e a descobrir novas histórias escondidas entre as sombras.

A arte cyberpunk de Josan Gonzalez cativa e desafia, levando-nos a refletir sobre a interação complexa entre a humanidade e a tecnologia em um futuro incerto. Sua habilidade em criar um equilíbrio entre a beleza e a melancolia, a esperança e a desolação, é verdadeiramente notável. Suas obras nos transportam para um mundo fascinante, convidando-nos a contemplar os desafios e as possibilidades do amanhã.

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K. S. Broetto e o livro Fassade

Hoje trago uma dica das melhores para vocês. A escritora K. S. Broetto, também conhecida como Karolina Broetto, é uma designer, fã de quadrinhos e desenhos animados desde muito jovem, e desse hobbie surgiu a vontade de desenhar, que logo evoluiu para a vontade de contar histórias.

A necessidade de criar histórias era tamanha que logo os desenhos transformaram-se em histórias em quadrinhos influenciadas pelos universos dos animes femininos de Sailor Moon e do estúdio CLAMP.

Juntando toda essa fome com a vontade de comer, ela transformou suas antigas aventuras de RPG, que a marcaram para sempre, em um livro chamado Fassade.

Fassade nasceu de uma aventura de RPG de Castelo Falkenstein, que apresentou à autora um mundo fantástico que se mesclava ao mundo histórico da Era Vitoriana. Entre fadas, dragões, vampiros e personalidades da História, nasceram os personagens principais de Fassade e sua premissa, uma viagem de barco que uniria duas pessoas distintas. Inicialmente era um conto de apenas 7 páginas, mas com o passar dos anos a autora, K. S. Broetto, sentia-se inquieta, pois percebia que havia muito mais para se desenvolver na história.

Inspirada pelas canções melancólicas e profundas da banda alemã Lacrimosa, principalmente de seu CD Fassade (ao qual serviu de inspiração para o título do conto), e pelo universo fantástico de Castelo Falkenstein e do Mundo das Trevas de storyteller, o conto se transformou em um livro de 208 páginas.

Fassade é o primeiro livro de K. S. Broetto, mas não é a primeira história criada pela autora, esta obra faz parte de um universo que K. espera desenvolver em três séries, sendo Fassade o primeiro livro de uma duologia, seguido por Penélope que também se passará na Era Vitoriana e Labirinto ambientado em terras brasileiras e nos dias atuais.

Este livro é só o começo para a autora que anseia escrever sobre a vida dos personagens que habitam em sua mente e coração. Também é a jornada da autopublicação em um país que está longe de incentivar o surgimento de novos escritores, mas que caminha aos poucos para esta realidade vivenciada em outros países.

Com uma abordagem mais adulta do mundo da fantasia e do romance, K. pretende conquistar públicos mais maduros. Assim, em meio a segredos e mentiras, duelos e bailes, desenreda-se uma trama peculiar e intricada em Fassade.

Detalhes sobre o livro estão disponíveis através de sua página web e ele pode ser adquirido no E-book de Fassade nos sites da Amazon BR ou Amazon EUA e Saraiva. E o exemplar físico na Loja Virtual. Interessados em realizar depósito/transferência em conta bancária do Banco do Brasil devem entrar em contato pelo e-mail ksbroetto@gmail.com diretamente com a autora.

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O Livro Tibetano de Proporções

Um livro padrão do século XVIII, que consiste de 36 desenhos a tinta mostrando diretrizes iconométricas precisas para que descrever as figuras de Buda e Bodhisattva. Escrito em Neuari, com algarismos tibetanos, o livro foi aparentemente produzido no Nepal para uso no Tibete.

O conceito de “imagem ideal” do Buda surgiu durante a Idade de Ouro da regra Gupta, do 4º ao 6º século. Bem como as proporções, outros aspectos da descrição – tais como o número de dentes, cor dos olhos, a direcção dos pêlos – tornou-se muito importante. A V & A têm produzido um bom guia para a iconografia do Buda, incluindo a 32 Lakshanas ou características físicas especiais.

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As dificuldades para se escrever um livro, Uno e a experiência de Lidiane Cordeiro

Já pensou em escrever um livro? Não importa o tema. Agora já pensou em de fato o que é necessário para um livro virar realidade? Escrever requer bastante sacrifício, não só para o ato de escrever em si, mas em tudo o que envolve o processo. No entanto, é muito gratificante ter sua obra concretizada.

Além de descobrir um bom tema, você precisará se empenhar em pesquisas para colher material substancioso e interessante para envolver o leitor. E se tem uma pessoa que entende desse tipo de pesquisa é a escritora, ilustradora e designer Lidiane Cordeiro.

Lidiane é uma ilustradora de estilo bem próprio que admiro muito, mas também é uma grande escritora. Atualmente ela desenvolve um livro muito interessante chamado Uno, que está disponível no site Wattpad, com capítulos lançados semanalmente. Além de Uno, a escritora já possui um livro escrito. Um épico medieval ainda sem nome definido.

Suas pesquisas, quando está criando um livro, vão tão a fundo que ela chega a procurar por nomes para personagens, condizentes com a época em que se passa a história. Suas ilustrações também acompanham os estilos de época.

Toda essa dedicação faz com que as obras de Lidiane sejam completas em muitos sentidos, mas apenas isso não basta. Temos que ter em mente que o estilo dos livros define o público que se interessará por eles e ainda é preciso encontrar uma editora disposta a aceitar o projeto de publicação. Depois você vai sofrer para que a obra chegue às livrarias. E o maior de todos os pesadelos será o de não ver sua produção intelectual exposta ao mercado comprador. Fora o fato de que os livros publicados raramente tem destaque nas mesas das novidades ou dos mais vendidos.

E não adianta reclamar. Os vendedores já se acostumaram com as reclamações e desenvolveram explicações próprias para cada caso; a mais usada é dizer que lá na seção dedicada ao assunto da obra a chance de vender é muito maior.

Já ta achando difícil ter um livro publicado? Então fique sabendo que além de tudo o que foi dito, grande parte dos lucros do seu livro ficam com a editora, que praticamente ganha mais em cima da sua obra do que você.

A esta altura você talvez esteja pensando: ora, já que vou ter de passar por tudo isso o melhor que tenho a fazer é desistir. Essa é uma péssima decisão! Mesmo imaginando que você não consiga publicar, o fato de pesquisar e escrever será muito importante para o seu desenvolvimento pessoal.

Você chegará ao final dessa jornada muito mais experiente e preparado. Supondo que você consiga publicar e que o livro não seja um grande sucesso de venda, não encare o resultado como uma derrota pessoal, pois dos mil e tantos livros publicados todos os meses no Brasil só uns poucos conseguem sobressair.

Pense também que vender livro não deve ser a maior preocupação. O importante mesmo é saber que, escrevendo a obra, você terá a oportunidade gratificante de compartilhar sua experiência com outras pessoas.

Sentir aquele “comichãozinho” de curiosidade enquanto está lendo a sinopse do livro, é exatamente isso que faz valer a pena ler ou escrever algo. A experiência e o aprendizado. Pense que antes da internet os livros foram os grandes propagadores de novidades e ideias e continuam sendo muito importantes em vários sentidos.

Depois de tanto blá blá blá, porque não perguntar para quem realmente vivenciou o processo de escrita? Batemos um papo com a Lidiane e ela tem muito a ensinar.

Você escreve a quanto a tempo?

Por toda a vida gostei de criar estórias, aventuras, romances, até mesmo terror já rolou. Escrevo desde que fui alfabetizada, começando com contos muito breves e infantis, naturalmente. Eu comprava cadernetas e nelas escrevia a lápis. Nada disso resistiu ao tempo e a todas as minhas mudanças desde então, mas eu me lembro de um caderninho em cuja capa tinha um jacaré, que eu mesma havia desenhado, e ele vestia um tipo de paletó. O título era “O jacaré fardado”, mas não lembro se as estórias contidas ali envolviam animais falantes ou personagens humanos também.

Antes de escritora você é ilustradora ou ilustrar é algo que sempre coexistiu com escrever?

Embora sempre tivesse gostado de contar estórias, sempre me expressei mais com o desenho. Posso arriscar que eu iniciei as duas coisas ao mesmo tempo. A diferença é que o desenho chamava mais atenção. Notoriedade para uma garota extremamente tímida era algo extraordinário. Em todas as escolas em que estive, podiam até não saber o meu nome, mas todos me conheciam como a garota que desenhava. Por um tempo eu consegui unir as duas coisas, criando HQs com personagens baseados na minha turma, o que curiosamente rendeu na época uma estória ligeiramente parecida com Lost (queda de avião em ilha deserta e coisas estranhas acontecendo enquanto tentávamos nos comunicar com o resgate), e uns cinco anos antes da estreia da série.
No ensino médio voltei a escrever, desta vez estórias mais românticas, bem dentro da temática adolescente, mesmo que tentasse aumentar um pouco a idade de meus personagens.
Partindo para a vida acadêmica, cursei dois anos de Artes Plásticas na Ufes, em seguida me transferi para o curso de Desenho Industrial, no qual me formei alguns anos atrás. Ainda na faculdade, fiz parte de um grupo de estudos em quadrinhos, A5, e cada um deveria criar sua estória e roteirizá-la. No fim, embora tenha rendido muito conhecimento e uma amizade firme, o Fanzine tão almejado não saiu. Descontente com a velocidade com que se é capaz de produzir uma HQ, resolvi deixar os Quadrinhos de lado e voltar a apenas escrever as estórias, ilustrando-as apenas ocasionalmente.

Você já ilustrou livros correto? Qual a diferença entre ilustrar para um livro e ilustrar para outros tipos de trabalho?

Correto! Tive relativamente poucas oportunidades de ilustrar um livro, e muitas de ilustrar cartilhas institucionais. Pensando primeiro no que os dois casos têm em comum, ilustrar sempre exige uma compreensão mais aprofundada do texto. Uma lida superficial não adianta. A diferença é que, ao ilustrar livros (mesmo infantis), sempre fiz um esforço para que as imagens não substituíssem a leitura do texto. A estória não pode ser contada apenas com as imagens, deve-se ler para compreendê-la, pois o texto se vale das imagens como um adorno, um reforço à ideia e um momento de respiro antes de virar a página e prosseguir.
No caso das cartilhas, geralmente espera-se informar sobre algo muito importante, relacionado à segurança de indivíduos ou a seus direitos e deveres. A informação tem que chegar, não importa se através do texto ou da imagem, não tem problema se soar um pouco redundante, o público alvo da cartilha deve chegar à última página ciente do conteúdo. Um terceiro caso de aplicação de ilustrações é aquele em que a arte não estará necessariamente ligada a um texto. Pode ser um poster, um retrato, uma caricatura etc.

Quais foram seus primeiros trabalhos com escrita?

Como houve várias estórias e a maioria não passará de relíquias guardadas com carinho em meu acervo pessoal, vou falar aqui daquelas que mais levei a sério, produzidas durante meu período acadêmico e para as quais não poupei esforços no que tange a pesquisas, levando às vezes anos até que eu desse o trabalho por encerrado.
Tenho uma série de quatro livros, com temática medieval, totalmente escrita e sem previsão de lançamento, e uma série de dois livros, em que apenas o primeiro está escrito e cujos capítulos posto semanalmente em minha página do Wattpad.

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Você escreveu um épico medieval certo? Como você achava que seria para publicar seu livro quando começou a escrever e como de fato foi no final?

Este, como eu disse, acabou se tornando uma série de quatro livros, somando mais de mil laudas, ainda sem nome e sem previsão de lançamento. Quando comecei a escrevê-lo, nem passava pela minha cabeça que a estória ficaria tão extensa, o que foi necessário porque optei por me aprofundar mais no passado da família que encabeça o enredo, e também na trajetória do grupo de personagens de maior relevância. No fim, são aproximadamente 80 anos contatos com saltos de tempo não tão grandes quanto se espera. A partir daí, tudo foi tomando forma e terminou totalmente diferente de como eu imaginei a princípio. Quanto à publicação, nunca tive a ilusão de que seria barato, acessível, mas a gente escreve porque gosta, não é mesmo? Não queria fazer nada antes de fechar a estória, e quando finalmente terminei, percebi que algo tão extenso seria ainda mais caro de produzir, que órgãos de incentivo cultural municipais não teriam interesse numa estória ambientada em outro país, normalmente preferindo enredos que tivessem relação com características físicas ou culturais da cidade/estado em questão. Auto publicação é um tópico muito interessante, merecedor de uma matéria própria. No momento posso dizer que, nesse caso, o investimento teria sido um pouco menor, mas o retorno bastante improvável. A propaganda e distribuição feita pelas editoras são uma meta praticamente inalcançável por uma pessoa comum, e sem propaganda e distribuição, o livro não chegará a ninguém. Uma alternativa considerada foi o Crowdfunding, algo interessantíssimo em muitos casos, mas cuja resposta depende tanto da sorte quanto do talento de quem se presta a pedir a contribuição de estranhos, tentando convencê-los de que seu projeto é digno de tal investimento. Claro que ter uma rede de contatos também ajuda bastante. No fim, a série permanece em stand by, enquanto me dedico àquela que decidi publicar on line, gratuitamente, me aventurando de forma inédita ao permitir que outros leiam uma criação minha.

Atualmente você escreve um livro chamado Uno, que eu gosto bastante. Ele tem um estilo diferente do seu primeiro livro. Você publica ele semanalmente no site Wattpad. Porque decidiu publicá-lo dessa forma?

Esta é uma estória que comecei a escrever em 2006, mas estagnei na ideia inicial, crua, antes de dar uma longa pausa para terminar a série medieval anterior. E assim que terminei esta, voltei com Uno, decidida a escrevê-la com capítulos menores. Queria me soltar mais, me permitir fazer uma estória leve. Já que havia passado tanto tempo escrevendo uma novela de teor mais pesado, dramático, e de certa forma sangrento, por que não fazer algo diferente, mais fantasioso, engraçado, despreocupado? (Para quem acha que George R. R. Martin pega pesado nas mortes, nunca leu nada de Lidiane Cordeiro)  Como era de se esperar, não foi bem o que Uno terminou sendo, mas ainda assim este permanece muito mais leve.
Em outubro do ano passado (2014) restabeleci contato com uma amiga, que também fazia parte daquele grupo de estudos, o A5, e juntas reavemos nossa empolgação. Eu escrevendo daqui e ela de lá, estórias completamente diferentes, mas houve uma troca tão boa que em poucos meses eu já havia terminado o primeiro livro, de uma forma que para mim foi mais satisfatória do que eu inicialmente esperava. A estória que pretendi simplificar acabou crescendo e se tornando algo que estou ansiosa para concluir no segundo livro.
Considerando tudo isso, eu decidi usá-la como um teste de como as pessoas reagiriam a algo escrito por mim. É bom saber se meu estilo agrada ou não, em que posso melhorar, o que devo manter… então, por incentivo dessa mesma amiga, que me apresentou como alternativa sites de literatura, eu comecei a me preparar para postar periodicamente os capítulos de Uno, decidindo isso antes mesmo de terminar de escrever o primeiro livro. Quis terminá-lo para que pudesse analisar o conjunto, reordenar capítulos, acrescentar elementos de coesão. E assim aconteceu.

Conte pra gente um pouco da história de Uno e como está sendo escrevê-lo.

Quando desisti de fazer de Uno uma estória simples, uma pequena distração, acabei mergulhando em discussões que considero relevantes para a sociedade em que vivo, ainda que estas sejam levantadas por personagens fictícios, num mundo fantástico.
Através de meus personagens, falo um pouco de religião, de preconceito, de perseguição a minorias, de ignorância e choque de realidade, de redenção e aceitação de si mesmo. A estória deve começar simples e escalar até um ponto em que suas bases fundamentais sejam discutidas.
Sem revelar tanto, posso dizer que Uno é uma aventura fantástica, mas que lida com personagens humanos e cujas únicas características pouco realistas são habilidades presentes em certos indivíduos baseadas na potencialização de uma técnica oriental de cura chamada Reiki, a qual aprendi, e que está acessível para quem mais tiver interesse. O resto lida com mudanças genéticas e deficiências fisiológicas. Ah, tem também uma profecia e todas as implicações que algo tão antigo e manipulável pode ter face ao jogo de interesses por trás de organizações religiosas e de governantes.

Como foi sua experiência com editoras quando você procurou por elas?

As conversas que tive foram muito informais, de modo que nem cheguei a enviar o texto a ninguém. A relação investimento/retorno, mesmo quando envolve editoras, é bem desanimador. Uma vez participei de um concurso literário nacional, apenas com a sinopse, mas não fiquei entre os finalistas.
No momento em que cheguei ao fim do livro, já havia decidido pela auto publicação, em sites como Per Se, que fazem serviço de assessoria e os livros são impressos sob demanda, disponibilizados também no formato ebook a um valor reduzido. Mas para fazê-lo, eu pretendia primeiro colocar o projeto num site de crowdfunding, para custear revisão, divulgação, registro etc. Escrevi o projeto, levantei valores, mas estagnei na produção do vídeo promocional, no qual deve-se vender a ideia e convencer os doadores em potencial a investirem. Depois passei a me dedicar exclusivamente à produção de Uno.

O que te motiva escrever? Valeu a pena o trabalho visto tantas dificuldades?

Posso dizer que escrever foi a saída natural para que eu pudesse dar vasão a algumas das estórias que invento. Muitas outras jamais deixaram o campo das ideias. Certa vez eu li uma frase que traduzida diz algo assim: Sou uma sonhadora de dia, e uma pensadora à noite. Tem sido assim durante toda a minha vida. Infelizmente sempre tive o sono muito leve, e demoro muito a dormir.

Mesmo na infância, substituí os carneirinhos pelas aventuras, romances e o que mais houvesse para imaginar. Chegou o momento de pegar algumas dessas noites de insônia e usá-las para desenvolver algo que me trouxesse alegria.
Esse trabalho sempre valerá a pena. A princípio, a recompensa por escrever é exatamente chegar ao fim da estória de uma maneira satisfatória. A publicação acho que fica em outro campo, talvez o da vaidade, o que não é ruim, só fica um nível abaixo do primeiro caso no que se refere à realização pessoal de quem escreve.

No final das contas, você recebeu o reconhecimento (e o retorno financeiro) pelos seus livros? As pessoas te procuram para falar a respeito?

Reconhecimento? Amigos que já leram gostam do meu estilo, elogiando o trabalho mesmo quando apontam suas fraquezas. Mas como é a primeira vez que publico, ainda acho tudo muito recente para tirar conclusões sobre a reação das pessoas. Me pergunte novamente daqui há alguns meses. Por outro lado, notícias referentes á publicação de Uno chegaram à produção de uma rádio local, que me convidou para dar uma entrevista num de seus programas. Este sim foi um retorno inesperado!
Retorno financeiro é algo que não espero no caso de Uno, pelo simples fato de estar publicando gratuitamente os capítulos. Já em futuras publicações, quando o primeiro projeto finalmente “entrar” no papel, é algo que só o tempo dirá.

O que é mais fácil, ter êxito como ilustradora ou como escritora e qual rende um retorno melhor?

Segundo minha experiência até hoje, a ilustração sempre terá mais visibilidade.  Visibilidade se traduz em retorno.

Que dicas você pode dar para as pessoas que se interessam por escrever e desenhar. Como ter sucesso nessas áreas?

Para quem quer escrever, escreva, da mesma forma que para quem gosta de desenhar, eu digo que desenhe. Para qualquer um dos casos, estude, pesquise e não pare nunca. O aprendizado é constante e não vai terminar. Compartilhe conhecimento e ouça dicas de quem compartilha seus interesses. Tenha cara de pau e mande emails para seus ídolos. Nem todos vão ignorar, eu garanto. Todos só têm a ganhar, porque quando se divide conhecimento, ele na verdade é multiplicado.

Para mais sobre Lidiane: Facebook

Para mais sobre Uno: Facebook, Wattpad

informações: UOL Economia

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Relatos da Primeira Depilação!

Eu de vez enquando coloco uns textos meus no blog. Alguns contos. Mas as vezes acho textos de outras pessoas tão bons, que fica impossível não postar.

Leia o relato de um moça que se depilou pela primeira vez.

“Tenta sim. Vai ficar lindo…”

Foi assim que decidi, por livre e espontânea pressão de amigas, me render à depilação na virilha. Falaram que eu ia me sentir dez quilos mais leve. Mas acho que pentelho não pesa tanto assim. Disseram que meu namorado ia amar, que eu nunca mais ia querer outra coisa. Eu imaginava que ia doer, porque elas ao menos m…e avisaram que isso aconteceria. Mas não esperava que por trás disso, e bota por trás nisso, havia toda uma indústria pornô-ginecológica-estética.

– Oi, queria marcar depilação com a Penélope.
– Vai depilar o quê?
– Virilha.
– Normal ou cavada?

Parei aí. Eu lá sabia o que seria uma virilha cavada. Mas já que era pra fazer, quis fazer direito.

– Cavada mesmo.
– Amanhã, às… Deixa eu ver…13h?
– Ok. Marcado.

Chegou o dia em que perderia dez quilos. Almocei coisas leves, porque sabia lá o que me esperava, coloquei roupas bonitas, assim, pra ficar chique. Escolhi uma calcinha apresentável. E lá fui. Assim que cheguei, Penélope estava esperando. Moça alta, mulata, bonitona. Oba, vou ficar que nem ela, legal. Pediu que eu a seguisse até o local onde o ritual seria realizado. Saímos da sala de espera e logo entrei num longo corredor. De um lado a parede e do outro, várias cortinas brancas. Por trás delas ouvia gemidos, gritos, conversas. Uma mistura de “Calígula” com “O albergue”.

Já senti um frio na barriga ali mesmo, sem desabotoar nem um botão. Eis que chegamos ao nosso cantinho: uma maca, cercada de cortinas.
– Querida, pode deitar.

Tirei a calça e, timidamente, fiquei lá estirada de calcinha na maca. Mas a Penélope mal olhou pra mim. Virou de costas e ficou de frente pra uma mesinha. Ali estavam os aparelhos de tortura. Vi coisas estranhas. Uma panela, uma máquina de cortar cabelo, uma pinça. Meu Deus, era O Albergue mesmo.
De repente ela vem com um barbante na mão. Fingi que era natural e sabia o que ela faria com aquilo, mas fiquei surpresa quando ela passou a cordinha pelas laterais da calcinha e a amarrou bem forte.

– Quer bem cavada?
– .é… é, isso.
Penélope então deixou a calcinha tampando apenas uma fina faixa da Abigail, nome carinhoso de meu órgão, esqueci de apresentar antes.
– Os pêlos estão altos demais. Vou cortar um pouco senão vai doer mais ainda.
– Ah, sim, claro.
Claro nada, não entendia porra nenhuma do que ela fazia. Mas confiei. De repente, ela volta da mesinha de tortura com uma esp átula melada de um líquido viscoso e quente (via pela fumaça).

– Pode abrir as pernas.
– Assim?
– Não, querida. Que nem borboleta, sabe? Dobra os joelhos e depois joga cada perna pra um lado.
– Arreganhada, né?
Ela riu. Que situação. E então, Pê passou a primeira camada de cera quente em minha virilha Virgem. Gostoso, quentinho, agradável. Até a hora de puxar.
Foi rápido e fatal. Achei que toda a pele de meu corpo tivesse saído, que apenas minha ossada havia sobrado na maca. Não tive coragem de olhar. Achei que havia sangue jorrando até o teto. Até procurei minha bolsa com os olhos, já cogitando a possibilidade de ligar para o Samu. Tudo isso buscando me concentrar em minha expressão, para fingir que era tudo supernatural.
Penélope perguntou se estava tudo bem quando me notou roxa. Eu havia esquecido de respirar. Tinha medo de que doesse mais.
– Tudo ótimo. E você?

Ela riu de novo como quem pensa “que garota estranha”. Mas deve ter aprendido a ser simpática para manter clientes. O processo medieval continuou. A cada puxada eu tinha vontade de espancar Penélope. Lembrava de minhas amigas recomendando a depilação e imaginava que era tudo uma grande sacanagem, só pra me fazer sofrer. Todas recomendam a todos porque se cansam de sofrer sozinhas.
– Quer que tire dos lábios?
– Não, eu quero só virilha, bigode não.
– Não, querida, os lábios dela aqui ó.
Não, não, pára tudo. Depilar os tais grandes lábios ? Putz, que idéia. Mas topei. Quem está na maca tem que se fuder mesmo.
– Ah, arranca aí. Faz isso valer a pena, por favor.
Não bastasse minha condição, a depiladora do lado invade o cafofinho de Penélope e dá uma conferida na Abigail.
– Olha, tá ficando linda essa depilação.
– Menina, mas tá cheio de encravado aqui. Olha de perto.
Se tivesse sobrado algum pentelhinho, ele teria balançado com a respiração das duas. Estavam bem perto dali. Cerrei os olhos e pedi que fosse um pesadelo.
“Me leva daqui, Deus, me teletransporta”. Só voltei à terra
quando entre uns blábláblás ouvi a palavra pinça.
– Vou dar uma pinçada aqui porque ficaram um pelinhos, tá?
– Pode pinçar, tá tudo dormente mesmo, tô sentindo nada.
Estava enganada. Senti cada picadinha daquela pinça filha da mãe arrancar cabelinhos resistentes da pele já dolorida. E quis matá-la. Mas mal sabia que o motivo para isso ainda estava por vir.
– Vamos ficar de lado agora?
– Hein?
– Deitar de lado pra fazer a parte cavada.
Pior não podia ficar. Obedeci à Penélope. Deitei de ladinho e fiquei esperando novas ordens.
– Segura sua bunda aqui?
– Hein?
– Essa banda aqui de cima, puxa ela pra afastar da outra banda.
Tive vontade de chorar. Eu não podia ver o que Pê via. Mas ela estava de cara para ele, o olho que nada vê. Quantos haviam visto, à luz do dia, aquela cena? Nem minha ginecologista. Quis chorar, gritar, peidar na cara dela, como se pudesse envenená-la.
Fiquei pensando nela acordando à noite com um pesadelo. O marido perguntaria:
– Tudo bem, Pê?
– Sim… sonhei de novo com o cu de uma cliente.
Mas de repente fui novamente trazida para a realidade. Senti o aconchego falso da cera quente besuntando meu Twin Peaks. Não sabia se ficava com mais medo da puxada ou com vergonha da situação. Sei que ela deve ver mil cus por dia. Aliás, isso até alivia minha situação. Por que ela lembraria justamente do meu entre tantos? E aí me veio o pensamento: peraí, mas tem cabelo lá? Fui impedida de desfiar o questionamento. Pê puxou a cera. Achei que a bunda tivesse ido toda embora. Num puxão só, Pê arrancou qualquer coisa que tivesse ali. Com certeza não havia nem uma preguinha pra contar a história mais. Mordia o travesseiro e grunhia ao mesmo tempo. Sons guturais, xingamentos, preces, tudo junto.
– Vira agora do outro lado.
Porra.. por que não arrancou tudo de uma vez? Virei e segurei novamente a bandinha. E então, piora. A broaca da salinha do lado novamente abre a cortina.
– Penélope, empresta um chumaço de algodão?
Apenas uma lágrima solitária escorreu de meus olhos. Era dor demais, vergonha demais. Aquilo não fazia sentido. Estava me depilando pra quem? Ninguém ia ver o tobinha tão de perto daquele jeito. Só mesmo Penélope. E agora a vizinha inconveniente.
– Terminamos. Pode virar que vou passar maquininha.
– Máquina de quê?!
– Pra deixar ela com o pêlo baixinho, que nem campo de futebol.
– Dói?
– Dói nada.
– Tá, passa essa merda…
– Baixa a calcinha, por favor.

Foram dois segundos de choque extremo: “Baixe a calcinha”…. como alguém fala isso sem antes pegar no peitinho? Mas o choque foi substituído por uma total redenção. Ela viu tudo, da perereca ao cu. O que seria baixar a calcinha? E essa parte não doeu mesmo, foi até bem agradável.

– Prontinha. Posso passar um talco?
– Pode, vai lá, deixa a bicha grisalha.
– Tá linda! Pode namorar muito agora.
Namorar…namorar?!… eu estava com
sede de vingança.
Admito que o resultado é bonito, lisinho, sedoso. Mas doía e incomodava demais. Queria matar minhas amigas. Queria virar feminista, morrer peluda, protestar contra isso. Queria fazer passeatas, criar uma lei antidepilação cavada.
Mas eu ainda estou na luta…
Fica a minha singela homenagem para nós mulheres!

VALERIA SEMERARO

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Red

Red (2010) – Animation

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Sob Pressão

Quando se está procurando emprego vemos coisas que nos fazem pensar. Olhando os anúncios de emprego li uma exigência de uma grande empresa, exigência essa que é comum em muitas empresas que estão a procura de funcionários.

“Acostumado a trabalhar sobre pressão”

Fiquei refletindo sobre esse “sobre pressão”, que aliás o correto é “trabalhar sob pressão”. Uma condição. Talvez quem escreveu o anúncio estava sob muita pressão para pensar sobre o que estava escrevendo.

Eu entendo que em determinadas áreas o serviço é em ritmo acelerado, prazos curtos, e que é normal se trabalhar com dinamismo e responsabilidade, mas “sob pressão”? São seres humanos e não máquinas. O que esperar de uma empresa que pede isso?

O que seria trabalhar sob pressão? Um chefe te chicoteando as costas para que você trabalhe mais rápido? Ou ser culpado de todo trabalho que não for entregue na hora prevista devido ao curto prazo?

"Neto como andam aqueles relatórios para daqui a uma hora?"

"Seu Rogério, estou atualizando as contas de toda a empresa e as da sua casa conforme o senhor me pediu para hoje. Não acho que será possível entregar os relatórios daqui a 1 hora, mas até o final do dia te dou certeza que..."

"Quero tudo para daqui a 1 hora! Não me importo como você irá fazer, mas fará!"

"Mas senhor, eu..."

"Estamos entendidos Neto?"

"Sim senhor... só mais uma coisa senhor, sua esposa ligou, disse que precisa das contas organizadas para declarar o importo de renda que te pediu mês passado."

"Ah... bom, faça isso agora, mas em seguida termine os relatórios!"

"Mas e as contas da empresa senhor? O financeiro disse que precisa delas com urgência ou poderão haver complicações." 

"Entendo. Termine as contas então... mas até o final do dia eu quero os relatórios prontos. Entendido?"

"Claro senhor, é uma ótima solução."

Talvez os profissionais que precisem ter "trabalho sob pressão" no currículo não devessem aceitar tal exigência e simplesmente ignorar esse tipo de empresa. Afinal, nem todas elas devem pensar assim não é mesmo? Ou pensam?

"Precisa-se de garçom para pizzaria, desejamos funcionário que saiba trabalhar sob pressão."

"Vaga para engenheiro que trabalhe sob pressão."

"Procuramos médico de plano de saúde, que atenda na hora, não remarque consulta para daqui a meses e trabalhe sob pressão."

O único profissional que me vem à mente agora, em que trabalhar sob pressão faça sentido é um cirurgião, afinal, ele cuida de vidas. "Cirurgião que saiba trabalhar sob pressão" ou talvez alguém que cuide da segurança nacional.

"Serviço secreto procura espião que trabalhe bem sob pressão."

Voltando ao anúncio, após meus devaneios, vi que os requisitos do candidato continuavam.

"Ter Espírito de Servir"

Esse confesso que fiquei algum tempo tentando entender, afinal a vaga não era para um lojista, atendente ou garçom. Fiquei tentando encontrar profissões que se enquadrassem com esses dois requisitos.

"Próximo!"

"Bom dia."

"Bom dia, nome?"

"Manuel Congo"

"Ok, Manuel é o seguinte, precisamos de escravos para o engenho de cana, com experiência."

"Claro senhor, sou habituado com esse trabalho desde que nasci."

"Ótimo! Você não acreditaria a quantidade de pessoas que chegam aqui que só começaram a trabalhar com 25, 26 anos... um absurdo. Então, precisamos de pessoas que trabalhem sob pressão e que tenham espírito de servir, acha que dá conta?"

"A pressão é fácil senhor, estou acostumado com trabalho pesado e terminar rápido. Servir é algo que me vem de berço."

"Perfeito, acho que você poderá começar hoje."

Bom, talvez falar de escravidão no século XXI seja um pouco demais.

"SOLDADO! ESTÁ MESMO DISPOSTO A SERVIR O SEU PAÍS?!"

"SIM SENHOR, SENHOR!"

"Será preciso dedicação. Aqui você trabalhará sob muita pressão! ESTÁ QUALIFICADO?"

"COM CERTEZA SENHOR!"
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Armandinho, Alexandre Beck e o compromisso com o mundo

Um dia um amigo me disse: “Cara tem um menino no Facebook, uns quadrinhos. Nossa, é você!”, eu fiquei tentando entender o porque do sorriso, achando que ele estava tirando uma com minha cara, daí ele me explicou que se tratava de um personagem de tirinhas que estava aparecendo no Facebook vira e mexe. Não dei muita bola no começo, até que o fato se repetiu com uma amiga, daí fui procurar saber quem era o tal “menino que se parecia comigo”.

O menino dos quadrinhos era o Armandinho e de fato não posso negar que temos muito em comum. Ele chegou de mansinho no Facebook e logo de cara agradou a muita gente. É um menino de uma inocência meio destrambelhada, que gosta muito de animais e nos faz rir muito com suas “tiradas”.

Armandinho foi criado em 2009 pelo ilustrador, agrônomo e comunicador social,  Alexandre Beck, só se tornando a tirinha que conhecemos em 2010. Ele não foi planejado e na verdade foi criado em poucas horas para ilustrar um trabalho urgente. Uma matéria de economia sobre pais e filhos (Olha aí você que vive reclamando de prazos curtos).

Dinho, como é conhecido carinhosamente, representa muitos de nós na infância. Uma criança atentada, mas muito amável, o que torna fácil se identificar com ele.

A tirinha tem um compromisso social grande, tratando de temas como preservação do meio ambiente, igualdade social e cresceu muito nos últimos tempos.

O trabalho de Alexandre é bem legal e está sendo reconhecido por muitos. Um fato curioso desse reconhecimento foi a participação do Armandinho na CowParade catarinense. Uma exposição de arte pública que já percorreu diversas cidades de todo o mundo. Se tratam de esculturas de fibra de vidro em forma de vaca e que são decoradas por artistas locais.

É impossível não notar no Armandinho as influências de personagens como o Calvin, a Mafalda e o Menino Maluquinho, tudo isso somado a sensibilidade única do Alexandre Beck torna a tirinha sensacional.

O Urucum Digital recebeu um presentão, uma entrevista com criador do Armandinho e com o próprio Armandinho! Beck foi muito legal e contou coisas interessantes.

As pessoas sabem muito sobre o Armandinho, mas pouco sobre você. Como é o Alexandre Beck? Como é o seu trabalho hoje em dia?

Trabalho quase exclusivamente com textos/desenhos/quadrinhos há 15 anos. De 2000 a 2005 trabalhei em redação de jornal e depois comecei a produzir de casa. É algo que demanda esforço, mas que pra mim compensa.

Como você acabou virando ilustrador?

Já havia feito agronomia e terminava comunicação social quando surgiu uma vaga de ilustrador no Diário Catarinense. Levei meus desenhos e fui selecionado.

Você ganhou um prêmio ainda jovem na Bienal Internacional de Kanagawa, no Japão. Como foi isso?

Foi uma professora que enviou um desenho meu para o concurso. Eu só soube quando recebi o prêmio, uma grande medalha de prata e um diploma da prefeitura de Kanagawa. Foi algo bacana, mas não imaginava na época que desenhar pudesse se tornar minha atividade.

Você tem uma carreira de muitos trabalhos interessantes, participou do Diário Catarinense, fundou a Artes & Letras Comunicação. Essa trajetória para você foi algo orgânico ou custou dar uma forçadinha no destino? Sabemos que nada vem fácil, mas foi algo que veio naturalmente para você?

As coisas foram acontecendo, passo a passo. Eu tinha vontade de trabalhar com desenhos. Por isso, fui cursar comunicação social em 97, mesmo graduado em agronomia. O curso de comunicação não foi como eu imaginava (ainda bem), mas foi importante na minha formação e visão de mundo. Depois, já ilustrador do Diário, comecei a fazer paralelamente quadrinhos voltados à educação ambiental – uma preocupação minha – utilizando conhecimentos da agronomia. A Arte & Letras veio para formalizar meus trabalhos como jornalista-ilustrador.

O Armandinho surgiu por acaso não é verdade? Inclusive sem nome. Conta pra gente a história.

As primeiras tiras do que veio a se tornar o Armandinho fiz em 2009. Foram feitas às pressas, pra ilustrar uma matéria que seria publicada no dia seguinte no jornal. As tiras que eu fazia na época, com outros personagens, não se encaixavam na matéria – que abordava economia familiar, com pais e filhos. Usei um desenho que tinha pronto, rabisquei pernas para representar os pais e as tiras foram publicadas no dia seguinte.

Maurício de Sousa costuma dizer que é o pai da Mônica, você se considera o “pai” do Armandinho? Como é a sua “relação” com ele?

O Maurício é de fato o pai da Mônica, que trabalha com ele, inclusive. Eu sou pai do Augusto e da Fernanda. Minha relação com o personagem é mais de cumplicidade. Mas muita gente me chama de “pai do Armandinho”, e não tem problema nenhum nisso.

O Armandinho tem muito de você? Sabemos o quanto ele quer um mundo melhor, isso vem da personalidade do Alexandre ou é um compromisso social que você quis que a tirinha assumisse?

É inevitável que tenha. Essa linha trago de outros trabalhos e setores da minha vida, incluindo a época do movimento estudantil, e está presente no Armandinho.

O Armandinho mudou muito a sua vida? O que mudou para você quando ele começou a fazer sucesso? Foi algo inesperado para você?

À medida que o personagem foi precisando, fui direcionando mais de meu tempo a ele. Isso mudou minhas tarefas e permitiu, por exemplo, me dedicar a fazer os livros. Não esperava o reconhecimento do personagem. Nunca foi esse o objetivo, e isso não muda nada minha forma de fazer as tiras.

Você acha que o mercado brasileiro tem carência do tipo de trabalho que você executa hoje com o Armandinho? Temos grandes profissionais de quadrinhos, mas poucos tão populares como ele se tornou.

Não creio que devamos direcionar nossas ações pra atender a um “mercado” ou que “popularidade” deva ser um objetivo a ser alcançado. Há muita gente lutando pelo bem comum, apesar de todas as dificuldades. São voluntários, professores, profissionais da saúde, etc. Isso é importante e merece ser reconhecido e valorizado. Muito mais que cartunistas ou “produtores de mercadoria”, somos seres humanos e cidadãos.

Seu estilo de traço nas tirinhas é bem característico. Ele foi desenvolvido para as tirinhas do Armandinho ou seu estilo sempre seguiu essa linha? Você tem outros trabalhos acontecendo atualmente que gostaria de contar pra gente?

O estilo dos meus quadrinhos educativos vai mais ou menos nessa linha. Mas escrevo, desenho e às vezes pinto coisas diferentes.

Que dicas você poderia dar para os ilustradores e quadrinistas que leem o blog?

Não me sinto à vontade pra dar dicas, mas algumas coisas me são importantes. Uma ilustração/quadrinho pode afetar o comportamento alheio, e isso implica responsabilidade. A leitura e a reflexão são fundamentais, e se refletem no nosso trabalho.

Quem busca originalidade talvez deva parar de tentar agradar os outros ou seguir caminhos já percorridos. Todos somos únicos, originais. Talvez a resposta esteja dentro de nós mesmos.

O papo com o Alexandre estava muito legal, até que alguém entrou na conversa. Já que ele estava por lá, resolvi fazer umas perguntas para ele também.

Armandinho, você tem noção do sucesso que está fazendo na internet? Tem gente querendo até suas camisas. O que acha disso?

Acho ruim. Tenho poucas camisas e gosto muito delas pra dar pra alguém.

Você é tão bagunceiro quanto parece ou é só impressão minha?

É só impressão sua, do meu pai, da minha mãe e dos meus professores.

Você gosta muito de animais né? Tem até um sapo. Porque você gosta tanto deles?

O sapo não é meu. Ele anda comigo porque quer. Por que eu gosto de animais? Por que não gostaria?

Tem gente por aí dizendo que você parece com o Calvin e a Mafalda. Você conhece eles? O que acha disso?

Tenho uma tia que se chama Mafalda. Ela é bem legal, mas acho que não se parece comigo. Ela tem alguns cabelos brancos.

Por que um garotinho como você decidiu que quer mudar o mundo?

Não decidi. Não sei fazer diferente. Eu gosto do mundo, das pessoas e dos bichos. Acho que aqui podia ser um bom lugar pra todos, não só pra alguns. Não acha?

Essa foi uma das matérias que mais gostei de fazer e quero agradecer ao Alexandre e ao Armandinho por falarem comigo. Definitivamente esse Armandinho apronta todas e o Alexandre é um cara legal.

Alexandre Beck: Blog

Livros do Armandinho

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